31 dezembro 2012

Renascer



Chega aquele momento em que todos desejam um bom ano. Desejam aos outros  o que desejariam para si mesmos. Sou pouco adepto dessas mensagens, principalmente agora, que tenho coisas mais importantes para fazer. Como por exemplo estar a escrever isto, que é de uma grande importância para mim e, apesar de o valor ser praticamente nulo, também para os outros. Todos os outros.

Chega este momento... E as mensagens dizem todas o mesmo, todas em simultâneo. Mas só agora. Porquê agora? Termina o ano... O que é o ano? O ano são vários conjuntos de pacotes de tempo. Temos os meses, as semanas, os dias, as horas... E o que são todos esses? Não passam de mais pacotes, mais pequenos. O tempo está associado de certa forma ao movimento de translação e rotação da Terra. Mas podia ter sido associado a outros movimentos. E onde começa o ano nesta translação? Existe uma partida? Uma chegada? Alguém definiu o início, mas podia bem ter sido outro. Referências... O valor deste dia é para mim igual aos outros. Porque não festejamos também o mês? A semana? Em vez de definir estas referências de tempo, há que viver simplesmente a vida. O instante em que festejo deve ser quando sinto que completei algo importante para mim. Durante um ano pode ter acontecido muito como nada, mas a festa é a mesma ao fim de um ano? E se correu mal, pedem que seja melhor. Pedem? Desejam? Os desejos pedem-se todos os dias a nós mesmos. Não passam de mensagens interiores do que gostaríamos de ter, fazer, ser...

Mas porque todo o ser humano decide que se deve festejar, junto-me á maioria, mas de forma diferente. Aproveito a data, a ocasião, a mentalidade geral. Foi previsto o fim do mundo para 2012, este ano. Não aconteceu. Ou pelo menos é o que dizem. Talvez estivessem á espera de chuvas de fogo, terras a abrirem-se, tornados múltiplos... Mas porque teria de ser assim o... fim? O que pretendo com esta passagem de ano, é dar valor ao fim do mundo. Quero que realmente tenha acontecido, que se desmorone, porque a Natureza transforma a Morte em Vida, e a Vida que vem, será bem melhor.

Anuncio portanto que o mundo acabou em 2012. E um outro começa em 2013. Que seja o renascer do que há de melhor. Começará criança, imatura. Mas crescerá num ambiente propício ao seu desenvolvimento e um dia atingirá a maturidade, revelando um mundo mais próximo do ideal. Que ambiente é esse? O ambiente seremos nós, humanos. Inicialmente apenas alguns, os que distinguem o bem do mal, os que conseguem visionar um mundo melhor, os que se esforçam para alçancar os seus objectivos e os seus desejos. Felizmente sei que há algumas pessoas por aí assim. Algumas precisam de um incentivo, outras já o têm mas não sabem. Mas a maior parte ainda não se conhece e contagiam todos os outros. O ambiente torna-se adormecido e os valores desenvolvidos tornam-se desvalorizados. Por isto mesmo é que começará apenas com os que já se começaram a esprequiçar. É preciso atingir um nível de credibilidade, de amostras, de exemplos, para que outros possam acordar de vez.

Uma sociedade. A Sociedade. O conceito que vou desenvolver é o de Sociedade. Deverá existir uma única. Deverá ser a mistura global de mentalidades. Deverá ter os melhores valores que o ser Humano adquiriu até agora e que poderá adquirir futuramente. O sistema monetário deixará de fazer sentido, a existência de emprego será fútil. Cada um será aquilo que é de melhor, não numa área, mas em todas as que quiser. Tal como a Natureza nos trás alimento sem que lhe tenhamos de dar dinheiro, todos os bens necessários na Sociedade serão também oferecidos por ela. As tecnologias funcionarão para auxílio do ser Humano e não para aumentar a rentabilidade de um negócio. Estas são apenas algumas das coisas básicas que idealizo. Há quem diga que sejam impossíveis, outras que sejam ridículas. Algumas talvez eu ache o mesmo. O Perfeito não foi criado e não será criado pelo menos enquanto for vivo. Mas a acção tem de ser tomada para começar a desenvolver este novo Mundo, com a Sociedade ideal. Tomo iniciativa no meu projecto: que 2013 seja um Renascer.

01 novembro 2012

A Preparação: Próxima do Fim


É o desce e sobe da vida. Uma carreira que termina na morte, mas que pode nem ter começado. Um labirinto cuja saída é a perfeição, ainda não alcançada, ficando todos pelo caminho, perdidos, apanhados em obstáculos. Alguns, com medo de se perderem, chegam a não entrar sequer. Mas não podendo voltar para trás, porque a vida começa num ponto fixo, ficam estáveis, instantâneos, constantes. E a vida morre sem sentido.
Perdi-me... Perdi-me como tantos outros. O medo dá coragem para desistir se for até ao seu limite. Felizmente que fui encontrando uma luz em todo o momento escuro. Não sei que luz... Há quem diga que possa ser a esperança... Talvez a existência de algo especial á minha volta, como algum amigo... Eu só consigo saber que é algo que deriva de mim, independentemente de todo o ambiente em que estou. É a única constante nesta expressão vitalícia...
E por isso mesmo me fui encontrando, perdendo... Com uma bateria que descarregava de vez em quando, esta luz também ela se apagava. Nunca gostei de dependência... Quem carrega tal bateria então? Como? Sou eu? Então porque não está sempre carregada?... Serão os meus pensamentos? Apercebi-me que eles me dão força ou a retiram, consoante o tipo de pensamento. Mas não é simplesmente o pensar... É o encarar a ideia. Há quem tenha uma ideia de um palhaço e fica com medo, há quem simplesmente não reaja. E depois há quem se ria. Esta reacção... Talvez seja isto que possa carregar essa bateria que me dá a “luz”. Ainda assim... Se se apaga a luz, a bateria acabou. Então como consigo reagir bem? Como posso sorrir a qualquer coisa? A alguma coisa. Será a Força? É uma força certamente... Em relação a isto, ainda não consigo responder ás minhas perguntas.
Assim sendo, volto eu ao labirinto. E um dia apercebo-me que a bateria não acaba. Não acaba. Tem sempre algum traço. Há sempre uma luz. E aqui... Sim... Será certamente por aqui... O que carrega a bateria deve ser a Força: a minha grande Vontade de viver. Como tal, será através desta força que continuará a existir uma luz e, assim, uma eterna luta para não me sentir perdido e continuar a procurar a tal saída. E ganhando este conhecimento, ainda que inconscientemente, passei a sonhar. Sonho após sonho, tornei este labirinto mais colorido para os meus olhos. Os obstáculos deixaram de parecer tão perigosos e o medo, o maior dos obstáculos, deixou de ter efeito.
E caio no pensamento após tanto sonho... Realmente parecia mais fácil... Mas não são as cores que me fazem chegar mais perto do ponto máximo. Posso-me rir na cara de uma faca, mas de que serve rir-me apenas? Não... O estado ainda estava muito retardado... Era preciso agir. E a consciência de tal surgiu. O desejo de agir. Agir o mais rápido possível. Ter eficácia. Focar-me nos meus sonhos e transformá-los na realidade. Fazer colidir todos os planos psicólógicos, todos os valores que o meu ser segue... Tudo num único ponto que iria consistir na minha vida, no caminho que deveria seguir para encontrar o ponto final.
E assim o comecei. Até agora o tenho feito. Mas continua a ser um estado de baixo nível. O corpo e a mente não convergem para o mesmo ponto e é preciso sintonizá-los. Para isso é preciso criar laços, os quais se formam através de uma contínua interacção. Mas quando duas coisas empurram em sentidos opostos, é preciso haver uma força exterior para equilibrar o meio... Será essa a Força de Vontade de novo a actuar? Isso não faz parte da mente? Então... Estarei a contradizer-me? Talvez, quem sabe, a mente seja mais forte... Talvez no fundo o corpo seja apenas um escravo da mente. Não! Não poderia ser um escravo. Um escravo sentir-se-ia mal. A mente quer que o corpo esteja bem... Mas... Talvez seja uma espécie de líder amigável... Suposições... Não servem de muito, mas de algo servem.
Continuando, chego agora a uma fase de aperfeiçoamento: o corpo começa a responder à mente, ainda que falhe por vezes. Mas em breve... Não deverá faltar muito para que me torne finalmente Eu e possa começar a correr no sentido directo do meu destino: aquele que criei através dos meus sonhos. Aí sim, começará realmente a corrida para o final do labirinto da vida. Todos este passos até agora têm sido apenas a preparação. Equipar-me para uma caminhada longa, mas com destino marcado. Apenas com o equipamento certo consigo chegar ao topo. E assim será!

22 outubro 2012

Ignorância


Ignorante Eu, ignorante Passado. Ignorante Presente e Futuro. Nasci a ignorar, ingenuamente parvo. Cresci ignorando, sensivelmente estúpido. A falta de um parafuso apertado... Ou dois ou três. Nasci Imperfeito e dele me criei. A imperfeição de ser ignorante ao ponto de ignorar a própria ignorãncia.
“Sou ignorante”, isto não basta para o reconhecer. É preciso perceber estas palavras, dar-lhes sentido. E posteriormente, quando passada a barreira de compreender a ignorância, falta deixar de ignorar. Feito isto continuo ignorante e continuarei a sê-lo. Simplesmente muda o nível de ignorância.
Passadas as barreiras referidas, entra-se num nível que permite imaginar, recriar, sonhar. Mas dorme-se. Acordado, dorme-se. Imagina-se um mundo diferente, como seria ao nosso agrado. Sonha-se com uma vida deitada, confortável, ao nosso gosto, á imagem do que nos poderia fazer feliz. E a ignorância existe aqui, onde os olhos se fecham ao mundo verdadeiro e as mãos se apertam uma á outra. De que serve sonhar assim?
Ignorantes aqueles que não conhecem as funcionalidades do corpo. Não sabem que as mãos se fecham e abrem se o quisermos. Não sabem que o som sai pela boca apenas se o deixarmos. Não sabem que as pernas se movem consoante a nossa vontade. Não sabem disto. Mas pelo menos, alguns sabem que são ignorantes. Mas é preciso passar ao nível seguinte. É preciso conhecer estas nossas capacidades. São elas que nos permitem passar da ignorância de um sonho, à realidade da nossa vida. Bem aplicadas, podemos até tornar um sonho real e melhor.
Mas certamente que continuará a existir um nível de ignorância. Como ser humano, tendemos a tê-lo a vida toda. Talvez um dia o deixemos de ser, mas até lá, é ir desenvolvendo a nossa consciência, criando os nossos sonhos e concretizá-los. Se há mais depois, cabe a cada um descobrir...

10 outubro 2012

Ilusão de uma vida


Por alguma razão se aprende a trabalhar (ou se deve aprender) logo de pequeno. É como tudo: uma questão de hábito. Se nos habituamos de criança a fazer determinada coisa de certa forma, quando damos por nós a ter consciência já fazemos disso algo natural. O problema vem quando decidimos que aprendemos da forma errada ou que existem outras opções mais simples. Na verdade este nem é um problema, visto que por vezes encontramos realmente uma melhor atitude do que a nos foi ensinada. O problema é quando nos enganamos e anos mais tarde tentamos voltar aos velhos hábitos.
Pode parecer fácil: se já o fizémos é só voltar a fazê-lo. Porém talvez não seja tão simples. Se a mente se sentiu enganada no passado e substituiu uma determinada forma de pensar ou agir por uma mais simples, pode muito bem ter sido caso de preguiça ou ignorância. É o caso de achar que se pode deixar para amanhã algo que podíamos deixar feito hoje.
Quero aqui salientar o factor preguiça, um factor enganador que leva a pensar que estamos a seguir um caminho mais simples. Pessoalmente, experimentei-o durante uns anos. Se pudesse culpar algo ou alguém, culparia especialmente a facilidade do ensino secundário com que me deparei. Até lá tinha sido trabalhador, perfeccionista. Mas quando me apercebi da facilidade das coisas, do ambiente do “será que tenho positiva?” e nunca me ter deparado com tal problema, começei a descambar, a deixar de trabalhar diariamente, estudar em vésperas dos testes. E infelizmente continuei a ter notas decentes, maiores por vezes que aqueles que se esforçavam a estudar. Chegava até a ter piores notas quando estudava, o que me levou a deixar o estudo um pouco de parte. Cada ano que passava o estudo era menos, existindo praticamente só em vésperas de testes.
Porém o interesse sempre existiu. Sempre existiu a curiosidade, a vontade de saber mais. A cada aula que ia sentia que aprendia algo novo ou que podia aprender algo interessante. Mas assim que estava fora da sala, parecia que a vontade se escondia cá dentro. Ainda assim, sabia que queria seguir estudos na faculdade. E assim o fiz. Mas foi nessa altura que a ilusão começou a notar-se: o nível de trabalho aumenta e os hábitos são praticamente nulos no que toca a trabalhar diariamente. As matérias nem são necessariamente muito complicadas, mas o fluxo de saberes que é necessário interiorizar é muito maior, o que implica um estudo contínuo.
Apenas ao longo do meu segundo ano me deparei com o meu maior problema: os meus hábitos de trabalho são péssimos para este nível de estudo. Para não bastar, apercebi-me que havia muita coisa que ainda não tinha feito, muitos sonhos por realizar, acordados todos em simultâneo. Aqueles sonhos que se criaram nas salas de aulas e se escondiam, soltaram-se todos nesse momento, cheios de vontade de vingar. Curso universitário mais uma imensidão de sonhos completamente distintos e... Um hábito de trabalho completamente errado... Como conjugar tudo isto por forma a completar tudo o que posso?
Infelizmente ainda não obtive essa resposta, mas estou a lutar por isso. Insucessos são previsíveis, para não contar com os que já foram encontrados. A minha atitude perfeccionista activa e uma desilusão pessoal em conjunto... Obstáculos constantes para cumprir objectivos...
É irónico quando o maior obstáculo da vida somos nós próprios...

13 setembro 2012

Passado do Futuro Presente


Corrida contra o tempo invisível,
Lenta, vagarosa, demorada.
Caminho de sentido imperceptível:
Frente, trás, seguir com a rajada…
E, como a Terra, giro em torno de mim,
Mas afasto-me do eixo para o que era fim.

Obstrução por memórias do futuro,
Presente vivido no que era para vir.
Um salto que me levou acima do muro,
A todo o resto da vida me fez fugir.
Desejo do que vem no que está,
Pois o que está extendia-se para lá.

E o que devia vir veio torto,
Pois não vivi o que tinha de viver.
Estive esse tempo em ponto morto,
Ponto que não me deixou mais crescer.
E degradou o futuro que tanto queria.
Que pensava nele e então sorria.

Mas quando há força de vontade,
Não importa passos ou saltos errados.
Há que dedicar o esforço à sanidade,
Agir no presente e depois nos fados.
E agirei como uma nova pessoa,
Ainda que igual no que a historia é boa.

Amizade

Balança com ruído a cadeira,
Presa ao ambiente de seco som,
Acompanhada pela velha madeira,
Chão usado que acrescenta um tom.
Escolhe esta sala o silêncio ruidoso,
Acolhido por coração frio e fogoso.

Vazio que se vai enchendo.
Aproximam-se os interessados,
Medrosos, nunca correndo.
Aproximam-se e ficam sentados.
Há ainda quem passe por fora,
Uns que se fartam e vão embora.

Histórias e cantigas soam no ar.
A multidão presta atenção,
Atenta às palavras a viajar.
Direcionam-se para o coração.
E então o instante é repetido,
Em que, da sala, todos haviam já saído.

Esquecido o homem orador,
Lembrada a palavra inconsciente
Presente na sua mensagem de amor.
Amizade a que tudo faz frente.
Até no esquecimento permanece
Pois se existiu já não falece.

Volta a cadeira a baloiçar,
Sabendo o seu futuro desconhecido.
Bem sabe que há-de alguém voltar,
Quando por acaso se sentir perdido.
E um novo conto servirá de abrigo,
Merecendo sempre por ser amigo.

23 abril 2012

Degradação

Mente suja, impura. Amaldiçoada pelos constantes erros variáveis do passado. Permissora de mistura de tempos; alucinada pelo que é real…
A irrealidade do corpo, abstracto a todas as condições exigidas pela mente, concreta e decidida; mas a degradação afasta os ouvidos das palavras, tal como o corpo foge às ordens do cérebro comandante.
Revolução de querer mandar; ou de não o querer. Fogem das suas funções, sem terem qualquer motivo, pela razão de simplesmente o fazerem. Mas existe o que levou a tal consequência. Existe a condição imposta previamente, que ressequiu as boas ligações entre o corpo e a mente. Não por existir na memória, mas porque alterou a relação entre tão bons antigos companheiros.
Falsidades do passado… Coração enganado que levou ao esmagamento psicológico; mente que quis ordenar mais do que ao que tinha direito, fez surgir tristezas emocionais. Ciclo vicioso, não resolvido… Prolongado durante alguns anos, forçado sem ser procurado e, como numa relação amorosa, um dia chegou ao limite, ao final…
E entretanto não se têm relacionado… As amarguras do passado tocam-lhes ainda hoje. Cada vez mais se torna difícil que se voltem a conjugar, numa combinação tão perfeita… E os sonhos tornam-se poluídos, insistidos por mim, refutados por um dos dois.
Pois eu sonho, um fracassa e o passado torna-se mais intenso, afastando-os ainda mais. Pois devo parar de sonhar? Dar-lhes tempo para reconciliarem? Também eu me torno fraco com isto… Éramos um forte… Dividimo-nos em três fracos… Degradação…

15 março 2012

Voltem (sentidos)

Sentidos... Vendi-os ao demónio pela felicidade de um ser especial. No momento, senti que eram palavras… Apenas. Escrevi a história que pretendia, criei-me sem sentir, sonhei que não me ria.

E não morri. Fiquei vivo, crente da minha existência, da minha presença neste mundo. Pareceu que tudo continuava igual. Começei a sonhar com o futuro, com o presente, com o passado. Um únido instante para todos os tempos. Memórias e criações em conjunto, num ponto único da mesma dimensão. O mundo parecia girar. Normalmente. A vida pareceu guiar-me, fez-me seguir sonhos, procurar o desconhecido. E fui. Fui vivendo. Tenho vivido.

Mas algo mudou. Algo que até agora pouco me tinha apercebido. Algo de que ainda nem me apercebi. A minha despreocupação com os outros tem-se vindo a reduzir. A mente tem vindo a preferir a solidão. Cada vez menos me importo com quem estou e quem são as pessoas que me rodeiam. Se digo algo que magoa, por mais verdade que seja, não me sinto mal por o dizer. Pelo menos, não tanto como antes. Neste momento já nem me dou ao trabalho de o dizer. Como se as pessoas perdessem o seu valor constantemente… Tenho lutado sem me aperceber para me aproximar das pessoas. Quem quer que sejam. Mas não me consigo ligar a ninguém. Na minha mente, está tudo distante. Ausência.

Sinto falta de sentir. Sentir a sério. Tenho fingido por vezes que sinto algo. Inutilmente. E o que mostro a todos é mais estupidez, mais parvoíce. Cada vez menos mostro o que sou, quem sou, quem quer que seja… Sinto-me feliz, mas na realidade nada sinto. Sorrio, mas para mim é um simples movimento.

E cá dentro, sinto falta de sentir… Talvez tenha mesmo vendido ao demónio todos esses sentidos… Mas sei que os tenho dentro de mim, a quererem sair e soltar-se. Mas não vejo nada. Não sinto nada! A confusão do passado deverá ter criado uma barreira extrema… Tenho de a ultrapassar… Como? Como?! Não sei… Não sei! Talvez precise de alguma ajuda externa… Talvez não depende apenas de mim…

Entretanto, vou crescendo. Porque não morri. Vou vivendo…

19 fevereiro 2012

Isolados

Não cabe, não entra, não sai, não fica… Há coisas que ficam de fora, observando o interior, de longe. Um vidro embaciado entre os olhos e o objecto… Quando desembacia, pelo doloroso respirar, bate a cabeça na placa dura e se apercebem os olhos de que apenas eles têm permissão. Os outros sentidos não ganham direito ao interior. As emoções ficam de fora, junto ao corpo, dentro do corpo, fora do mundo…

E o corpo sente a solidão. Sente que anda em torno do mundo mesmo estando no centro dele. A sua presença é inútil ao desenvolvimento da orquestra da vida, pois só pode observar o irreal. Se suplicar, irrelevante, ninguém o ouve. Ouvem apenas ruídos, uivos que preferem não ouvir e deixam passar… Já existem muitos problemas no meio do mundo, porque havia um corpo de originar mais ao falar?

Mundo… porque deixas corpos em torno de ti, deitados, belas adormecidas?... Com medo de falar, repousam em camas de aço frio esperando o momento em que alguém se lhes dirija… Mas não há alguém. Não existe uma voz com o poder de um beijo. Não existe uma voz… Portanto vão dormindo… Sonhando… Sonhando que sonham… Iludindo-se para que a mente não se perca para sempre… Tudo porque têm esperança de acordar… De serem acordados… Que um anjo caia. Um demónio. Que interessa o que é? Bastava uma palavra de importância. Uma palavra a dar valor. Um insulto preocupado. Um gesto manipulante. Um sorriso forçado. Um ombro para deitar a cabeça, uma lágrima para acompanhar, uma mão para enxugar…

Mas o mundo… Mundo… Não te preocupas. Porque haverias de te preocupar, se se preocupam contigo? Porque haverias de dar mais uma vida se te dedicam tantas? Egocentrismo… Pois que eu sou um corpo irrelevante… E iludo-me, sonho… E com esperança, aguento a fraca energia no meu interior, até que um dia te decidas a iluminar-me a testa com um ouvido, uma voz, um abraço, um carinho, um pouco de conforto na minha mente…

16 janeiro 2012

Vontade

Do pensar ao agir, longa distância,
Se escrevem rotas longas e curvadas,
Apetrechadas de horror e elegância,
Onde tudo vale: facas, flores, dentadas.

O mais difícil dos caminhos a percorrer,
Exaustivo, deprimente, isolador.
Num momento o verbo é quase “fazer”,
Mas por motivos secretos passa a “desolador”.

A tentação é o inimigo primário:
Afasta-nos do nosso objectivo,
Criando realidades do imaginário,
Que nos levam a fugir ao produtivo.

Não é que não façamos nada.
Simplesmente fazemos algo diferente,
A tarefa escolhida é a errada.
Mas um choque temporário afecta-nos a mente.

Tanto que custa reproduzir um pensamento.
Por vezes dorme-se, imaginando o resultado:
Por perfeito que seja, continua num estacionamento,
Esperando a sua vez de ser adoptado.

Ah! Força maldita que a tantos falta!
Essa vontade tão pobre e desgraçada…
É preciso existir mais no meio da malta!
Ai esta força… Tão abandonada…

Que é deste povo que nada cria?
Os jovens que deviam ser inovação,
Preferem passar pelo alcóol numa noite fria,
A realizar algo que lhes pede o coração.

Poucos sonham e os que sonham nisso estaca.
Raros os que tentam. Os que repetem ainda mais.
Desistem tão facilmente. Gente fraca…
E depois desesperados procuram por sinais…

O sinal está nessas testas! Todos pensam!
Mas falta usar a cabeça! Falta agir!
Há que haver vontade. Quando começam?!
Não há tempo para preguiça nem fugir!

É viver para o que queremos,
Não é pelo que nos vai fazendo esquecer!
Nós, pessoas, somos o que fazemos:
Recrias o mundo ao teu gosto e tens todo o poder.

14 janeiro 2012

Vive o Morto-vivo

No meio de um campo de minas: dás um passo e podes estar morto. Ficas parado e a fome alimenta-se de ti, regurgitando a tua alma silenciosamente no obscuro de um mundo perdido. Decides avançar e podes ter bilhete directo para a saída do Inferno. Ficas quieto e alguém aparece para te salvar.

São hipóteses. Meras hipóteses. No final interessa o que aconteceu: as acções tomadas. Os pensamentos de nada servem, a não ser para atrofiarem uma mente que receia abandonar o corpo em breve. Instintos… Sorte? Ou azar… Um ser morto não poderia mais pensar no seu futuro. Presente e passado muito menos. Jaz ali o final de um ser, que mais acções não poderá tomar. O ser vivo sabe o que fazer, minimamente, para assim continuar durante um pouco mais: prepara o seu futuro, conforme o seu pensamento e raciocínio consequente, sem confusões em demasia na cabeça, evitando possíveis incapacitações de acção conforme… O instinto, ou a sorte, ou como se quiser chamar a tal essência.

Porém não jaz o homem ou a mulher, quando mal mortos se deparam com o Paraíso na presença do Inferno. Inconsistência no pensamento… As acções tornam-se nulas, levadas pela tentação do momento. Escritas pelo que dominar melhor o corpo… Vive ou morre? A opção de escolher é um direito. No entanto não implica que assim seja. Pode querer viver, mas acabar morto. Ou vice-versa.

No primeiro caso, não há mágoa. Não estará mais vivo para repensar a dor de não ter cumprido o que havia por realizar. No segundo, a vida muda. Homem que viu o Inferno e voltou à Terra, vê um mundo completamente diferente. O que parecia modo de viver, é aos seus olhos um cuspir na cara dos que já não têm tal oportunidade. Aqueles que fariam algo que seria considerado… viver.

Que faz o morto-vivo ressuscitado? Procura uma razão para viver. Procura uma razão para não ter ido de vez. Procura. Cria. Imagina. Sonha. Transforma a sua vida à base de sonhos. Sonhos que viu sumir à sua frente na brecha do imortal.

Em simultâneo, perde-se. “Porquê os sonhos?”, “Porque se uniram a mim?”. Possuído pelas ideias mais fantásticas e radicais, sem saber por onde começar, acredita que os sonhos não passam de… sonhos… Desliga assim a sua capacidade de agir, caindo num sono profundo, sonhando…

Até que certo momento, no seu sono, as coisas tornam-se demasiado… reais! O que o rodeia preenche-lhe as noites, como se se mantivesse acordado, a viver… A viver conforme o seu pensamento! Aqueles sonhos semi-controlados, em que as coisas acontecem como imaginamos. Então, se as duas dimensões se misturam assim, é porque há uma relação! Existe algum elemento de conexão!

Surge assim uma pequena luz na sua mente, que lhe abre um pouco os olhos, o suficiente para procurar o que realmente falta. Se a luz se apagar, talvez não hajam mais oportunidades… Então, o importante é mantê-la acesa e ir-lhe dando energia para que se expanda a todo o corpo e, por fim, transferir os sonhos a uma realidade.

04 janeiro 2012

Julgamento

Chegou o momento de encarares a verdade. Serei eu a dizê-la. Serei eu a julgar-te, porque ninguém te conhece melhor do que eu. E porque já não aguento este nojo que tenho de ti, aqui vai a mensagem que tenho:

És uma pessoa inútil! Falas sobre os outros no meio de um silêncio obscuro, que ninguém se apercebe de que és tu que estás a dominar. Mas dominar o quê?! Não dominas nada! O único pensamento que passa nessa cabeça é que “consigo fazer melhor”. Essa tua ideia mais repetida que um ciclo infinito, sempre quando vês algo que não fizeste. Sabes o que isso é? Não passa de inveja! Não passa de vergonha de ainda não teres chegado aos calcanhares de outros!

Queres ter glória… Ser uma boa pessoa… Até isso ainda nem conseguiste ser! Não fizeste nada dessa vida até agora! Deixas tudo por acabar! Desistes sempre! Indivíduo fraco… Insistes em confiar em sonhos… Até não é mau, não. Mas não basta acreditar neles! Metes-me nojo que tenhas tantos e afirmes por aí que os vais realizar e no final de contas os que te rodeiam ainda fazem mais que tu sem sequer terem sonhado! Inútil!

Como pode haver alguém que seja tão triste como tu? Triste em diversos sentidos! És triste porque nem consegues ter o mínimo sucesso no que quer que seja! Triste, porque tentas mostrar-te forte e não passas de uma criança a fingir que não tem problemas! Ignorante! És triste, porque vives só e tentas mostrar que estás bem, que não precisas de ninguém, quando sabes que só vives à conta de outros! Por mais que o escondas, bem vejo que queres atenção. Queres ser desesperadamente o centro de algo…

Aí te falta o seres boa pessoa! Se fosses decente talvez tivesses gente ao teu lado! Talvez não estivesses constantemente a precisar de um empurrão de um desconhecido que por acaso meteu conversa contigo! E mesmo assim deixas que um empurrão positivo te empurra para o chão! E quem tem a culpa?! Lamento, mas não foi a outra pessoa, como responderias. É tua! Tua! Apenas tua! És tu que as afastas e tentas ser uma vítima da sociedade!

Tenho pena de ti. Muita pena. E sei bem como te magoa que tenham pena de ti. Faz-te sentir ainda mais inútil não é? As tuas desculpas ao teu insucesso… Arranjas sempre algo para culpar… Mas nunca decidiste culpar o teu carácter! Essa tua maneira de ser que não te deixa fazer nada! E não penses que isto é outra possível desculpa. O teu carácter é tua responsabilidade, portanto a culpa continua a ser tua!

E depois disto, gostava seriamente que mudasses essa tua atitude. Tu compreendes no fundo o que te quero dizer, por mais que te magoe. Sou o teu único verdadeiro amigo, aquele que te conhece completamente. Por isso mesmo fui directo. E assim continuarei a ser. Sei bem o efeito que tem um sermão em ti. Infelizmente não havia mais ninguém para to dar. Felizmente cá ando eu, o teu espelho.