No meio de um campo de minas: dás um passo e podes estar morto. Ficas parado e a fome alimenta-se de ti, regurgitando a tua alma silenciosamente no obscuro de um mundo perdido. Decides avançar e podes ter bilhete directo para a saída do Inferno. Ficas quieto e alguém aparece para te salvar.
São hipóteses. Meras hipóteses. No final interessa o que aconteceu: as acções tomadas. Os pensamentos de nada servem, a não ser para atrofiarem uma mente que receia abandonar o corpo em breve. Instintos… Sorte? Ou azar… Um ser morto não poderia mais pensar no seu futuro. Presente e passado muito menos. Jaz ali o final de um ser, que mais acções não poderá tomar. O ser vivo sabe o que fazer, minimamente, para assim continuar durante um pouco mais: prepara o seu futuro, conforme o seu pensamento e raciocínio consequente, sem confusões em demasia na cabeça, evitando possíveis incapacitações de acção conforme… O instinto, ou a sorte, ou como se quiser chamar a tal essência.
Porém não jaz o homem ou a mulher, quando mal mortos se deparam com o Paraíso na presença do Inferno. Inconsistência no pensamento… As acções tornam-se nulas, levadas pela tentação do momento. Escritas pelo que dominar melhor o corpo… Vive ou morre? A opção de escolher é um direito. No entanto não implica que assim seja. Pode querer viver, mas acabar morto. Ou vice-versa.
No primeiro caso, não há mágoa. Não estará mais vivo para repensar a dor de não ter cumprido o que havia por realizar. No segundo, a vida muda. Homem que viu o Inferno e voltou à Terra, vê um mundo completamente diferente. O que parecia modo de viver, é aos seus olhos um cuspir na cara dos que já não têm tal oportunidade. Aqueles que fariam algo que seria considerado… viver.
Que faz o morto-vivo ressuscitado? Procura uma razão para viver. Procura uma razão para não ter ido de vez. Procura. Cria. Imagina. Sonha. Transforma a sua vida à base de sonhos. Sonhos que viu sumir à sua frente na brecha do imortal.
Em simultâneo, perde-se. “Porquê os sonhos?”, “Porque se uniram a mim?”. Possuído pelas ideias mais fantásticas e radicais, sem saber por onde começar, acredita que os sonhos não passam de… sonhos… Desliga assim a sua capacidade de agir, caindo num sono profundo, sonhando…
Até que certo momento, no seu sono, as coisas tornam-se demasiado… reais! O que o rodeia preenche-lhe as noites, como se se mantivesse acordado, a viver… A viver conforme o seu pensamento! Aqueles sonhos semi-controlados, em que as coisas acontecem como imaginamos. Então, se as duas dimensões se misturam assim, é porque há uma relação! Existe algum elemento de conexão!
Surge assim uma pequena luz na sua mente, que lhe abre um pouco os olhos, o suficiente para procurar o que realmente falta. Se a luz se apagar, talvez não hajam mais oportunidades… Então, o importante é mantê-la acesa e ir-lhe dando energia para que se expanda a todo o corpo e, por fim, transferir os sonhos a uma realidade.
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