14 outubro 2011

Aventura Infernal: O Deserto

Justificar completamente Este é o segundo capítulo da saga "Aventura Infernal". Se ainda não o fizeste, lê o primeiro aqui: http://infinitohorizontal.blogspot.com/2011/08/aventura-infernal-estacao.html

O desconhecido não me assusta. Mas deixa-me ansioso. Ansioso por me surpreender, por ver algo novo. Neste momento sinto que não estou em algo conhecido. Tudo é diferente. Num comboio relaxado, passei a uma dimensão completamente isolada. Pelo menos assim parece... Apesar das vozes e sombras que continuam a aparecer por vezes...

Por mais estranha que seja aquela... estação... Tenho vontade de me meter à procura de mais respostas. Ali não vejo nada esclarecedor. Apenas mais confusão virá. Quanto ao deserto que se me afronta... Nada sei, nenhumas confusões até agora. Parece mais secreto porém.

Caminho em frente, descalço e com os pés ardentes. O calor intensificou-se, quase tão quente quanto a fornalha. Mas sigo. Nada de mais. Nada de menos.

Escrevo linhas de uma dimensão ao arrastar os pés rijos na pedra dura. Não é deserto de muita areia. Seguem-me até se pintarem de vermelho vivo. A fraca força de pernas leva-me a arrastar demais o pé direito e salta-se-me uma unha do dedo grande. A carne torna-se visível, rosada, enrugada, velha. Desprotegida, infiltram-se alguns dos poucos grãos de areia e preenchem-me o dedo de vários tonalidades de vermelho. Oh como sou feliz por ter tanta da cor que mais gosto!

Continuo a caminhar. A estação tornou-se num ponto agora que olho para trás. Está para trás! Caminhar até parecer invisível!

A minha pele começa a torna-se rugosa e desidratada. As forças, excepto a de querer caminhar, vão-se esgotando.

Ajoelho-me. Outra pessoa talvez pedisse ajuda a Deus. Mas de que me serve algo inútil e egoísta? Não! Sou eu que tenho de me resolver! E não há mais ninguém. Dependo de mim unicamente.

Continuo ajoelhado. Agora com as palmas das mãos no chão. Sinto o mundo (este mundo) mexer-se. Os meus olhos começam a revirar-se e uma linha negra vertical invade-me a vista. Tento interpretar através da minha nova visão. Com a audição oiço um pingar. Água? A visão não me permite concluir. Apenas consigo distinguir uma simetria, quebrada por uma linha, de algo no chão. Uma poça. Um lago?

Arrasto-me de joelhos sem gemer de qualquer dor. Abandono de novo a minha carne. Oxalá alguém a aproveitasse. E quem sabe?... Rastejo até ao "lago". As minhas mãos tocam num líquido bem fluido. Com o campo de visão quase a negro, bebo. Bebo e não saboreio. Alivia-me a sede. Arrefece-me o corpo. A visão começa a voltar.

Pinga. E continua a pingar. Mais rápido do que me tinha parecido. De onde? Apercebo-me de vários pilares de madeira tortos. Cerca de cinco... Seis. Em torno deste meu bebedouro. Cada um equipado com um corpo espetado num longo pedaço de metal afiado. Os corpos são deformados com os restos dos músculos a descoberto, já meio degradados. A zona do peito está aberta e apresenta ausência de coração. De dentro saem artérias e veias unidas como um grosso cabo.

E pinga! Pinga... Os restos. Porque me parece que esses "cabos" foram usados como mangueiras para encher este lago. Este lago onde saciei a sede. Onde me pus bom. Estranho... Fiz algo de errado?

Salto para dentro e consigo nadar um pouco na profunda mancha. Sinto-me refrescado. Sinto-me bem.

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