10 outubro 2012

Ilusão de uma vida


Por alguma razão se aprende a trabalhar (ou se deve aprender) logo de pequeno. É como tudo: uma questão de hábito. Se nos habituamos de criança a fazer determinada coisa de certa forma, quando damos por nós a ter consciência já fazemos disso algo natural. O problema vem quando decidimos que aprendemos da forma errada ou que existem outras opções mais simples. Na verdade este nem é um problema, visto que por vezes encontramos realmente uma melhor atitude do que a nos foi ensinada. O problema é quando nos enganamos e anos mais tarde tentamos voltar aos velhos hábitos.
Pode parecer fácil: se já o fizémos é só voltar a fazê-lo. Porém talvez não seja tão simples. Se a mente se sentiu enganada no passado e substituiu uma determinada forma de pensar ou agir por uma mais simples, pode muito bem ter sido caso de preguiça ou ignorância. É o caso de achar que se pode deixar para amanhã algo que podíamos deixar feito hoje.
Quero aqui salientar o factor preguiça, um factor enganador que leva a pensar que estamos a seguir um caminho mais simples. Pessoalmente, experimentei-o durante uns anos. Se pudesse culpar algo ou alguém, culparia especialmente a facilidade do ensino secundário com que me deparei. Até lá tinha sido trabalhador, perfeccionista. Mas quando me apercebi da facilidade das coisas, do ambiente do “será que tenho positiva?” e nunca me ter deparado com tal problema, começei a descambar, a deixar de trabalhar diariamente, estudar em vésperas dos testes. E infelizmente continuei a ter notas decentes, maiores por vezes que aqueles que se esforçavam a estudar. Chegava até a ter piores notas quando estudava, o que me levou a deixar o estudo um pouco de parte. Cada ano que passava o estudo era menos, existindo praticamente só em vésperas de testes.
Porém o interesse sempre existiu. Sempre existiu a curiosidade, a vontade de saber mais. A cada aula que ia sentia que aprendia algo novo ou que podia aprender algo interessante. Mas assim que estava fora da sala, parecia que a vontade se escondia cá dentro. Ainda assim, sabia que queria seguir estudos na faculdade. E assim o fiz. Mas foi nessa altura que a ilusão começou a notar-se: o nível de trabalho aumenta e os hábitos são praticamente nulos no que toca a trabalhar diariamente. As matérias nem são necessariamente muito complicadas, mas o fluxo de saberes que é necessário interiorizar é muito maior, o que implica um estudo contínuo.
Apenas ao longo do meu segundo ano me deparei com o meu maior problema: os meus hábitos de trabalho são péssimos para este nível de estudo. Para não bastar, apercebi-me que havia muita coisa que ainda não tinha feito, muitos sonhos por realizar, acordados todos em simultâneo. Aqueles sonhos que se criaram nas salas de aulas e se escondiam, soltaram-se todos nesse momento, cheios de vontade de vingar. Curso universitário mais uma imensidão de sonhos completamente distintos e... Um hábito de trabalho completamente errado... Como conjugar tudo isto por forma a completar tudo o que posso?
Infelizmente ainda não obtive essa resposta, mas estou a lutar por isso. Insucessos são previsíveis, para não contar com os que já foram encontrados. A minha atitude perfeccionista activa e uma desilusão pessoal em conjunto... Obstáculos constantes para cumprir objectivos...
É irónico quando o maior obstáculo da vida somos nós próprios...

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