14 julho 2011

De Volta a um Mundo Negro


Mais uma vez caminho para um buraco negro.
Já era de prever: andava a dar demasiado sem receber. A forma como funciono impede-me de viver: dou e não recebo: a única coisa que tenho é ver os outros contentes com o que dei. Alguns agradecem, mas apenas por educação: na verdade não sabem o que é agradecer.
E agora? E agora que se foram todos embora? E agora que já ninguém precisa de mim? Já não sou necessário... Já não tenho utilidade para os que me rodeiam...
Já ninguém me rodeia!
Há uns anos era eu que ajudava tudo, servia para desabafar, para falar sobre tudo o que muitos não queriam e se estavam a ralar. Eu sacrifiquei o meu tempo, mas para desenhar um sorriso naqueles de quem gostava e por quem sentia carinho.
Agora onde estão essas pessoas? Agora onde estão as pessoas?
A certa altura desapareciam umas, apareciam outras e aquilo que chamava de amigos deixou de existir: os amigos não vão e vêm: esses são os interesseiros.
Mesmo assim nunca rejeitei nenhuma conversa. Destruí o meu orgulho sendo sempre eu a meter a conversa quando decidiam que já não fazia falta. O que resultava é que me abandonavam na mesma.
Até há pouco tinha sido assim. Mas parece que o equilíbrio não estava a meu favor: desapareciam mais pessoas do que apareciam e o número começou a reduzir. E agora estou muito perto do zero.
As luzes em torno de mim apagaram-se. Estou a voltar ao meu poço, antigo, que já há muito não visitava. Não tenho saudades... Não tenho saudades de viver no escuro e no fundo do mundo...
Onde é que errei, pergunto eu... Não sei... Terei sido eu a errar? Talvez deva fazer primeiro esta pergunta... Mas a qual responder primeiro? Não tenho respostas... Começam-me a vir os pensamentos de que não fui feito para viver nesta sociedade. Sou demasiado sensível. Sou demasiado dado. Sou demasiado frágil: sou um alvo de interesseiros que deitam fora um “amigo” como deitam o lixo no chão: nem se dão ao trabalho de pôr no sítio que deve estar...
Neste momento tornei-me a única estrela. Sou eu que dou brilho a este poço escuro. Sou eu que me consigo guiar. Por enquanto. Porque as baterias se esgotam: precisam de ser carregadas. E eu carregava-me com os sorrisos dos que me rodeavam.
E agora?
Apago-me um dia? Sim, todos acabam por se apagar...
Apago-me em breve? Talvez...
Ou talvez seja mais resistente do que penso...
Talvez...

Sem comentários: