É este um dos problemas da noite... É por isto que ganhei o gosto pela vida na noite... A noite, em que gostava de dormir... A noite, em que odeio dormir.
Quando durmo, durmo pouco. Não consigo dormir as horas recomendadas. No entanto, chega para produzir algo durante o dia seguinte. Produzir mais do que aqueles que dormem as 8 horas. Mas quando durmo, confortável, algumas horas a mais, sonho. E os sonhos costumam ser loucos. Loucos ao ponto de me fazerem rir da loucura que foi. Loucos de me fazerem querer chorar por me recordarem o que tentei durante tanto tempo esconder, tentar não mostrar...
Não choro. Não mais. Choro... Simplesmente não deito as lágrimas escondidas e secas de tanto tempo guardadas... Mas guardo tudo dentro de mim. Dentro de uma caixa trancada, que vou transportando todos os dias comigo, passeando o passado no meu presente, sem que se altere nada, sem que entre em contacto com ele.
Mas quando durmo e os sonhos se tornam de tal forma loucos, sem ser capaz de ter qualquer controlo, essa caixa pode abrir-se e deixar sair o que mais receio. Entra em contacto com os meus pensamentos presentes, atrofia-me o cérebro, deixa-me ficar mais louco e a noite torna-se dolorosa. E o dia torna-se mortífero.
Mas não morro, não. Por mais louco que fique, consigo equilibrar o meu estado de espírito. Consigo-o com consequências, mas consigo-o. E neste momento, por mais louco que esteja, por mais falta de sanidade que exista dentro de mim, tenho uma vontade de viver. E é apenas essa vontade que me faz estar aqui. Vivo. Fisicamente e mentalmente. Emocionalmente... Talvez nem tanto, pois fechei essa caixa. Pelo menos aquela que tem um passado de rosas. Aguardo o dia em que as minhas lágrimas interiores se tornem ácidas e acabem por matar todas essas rosas. Que matem completamente o que tenho cá dentro. Não bastam os picos, pois as próprias pétalas magoam. Que morram! Que dêem espaço a plantas mais belas no futuro...