23 fevereiro 2011

Insanidade

    Não sei... Não sei o que se passa comigo... Não sou boa companhia para ninguém... E para os que sou... Pois deixarei de ser em breve! O controlo anda-se a perder... Sinto-me um revoltado, paranóico por tudo o que está mal. Tudo o que faço e fiz mal, se o vejo noutros, julgo-os como se devessem morrer... Será que no fundo apenas me odeio a mim mesmo por errar tanto? Será que não consigo tolerar que façam a mesma porcaria que eu fiz até agora?
    Começo a achar que é isso... Pelo menos nos mais próximos... Olho para os outros a pensar que são perfeitos... Mas basta uma pequena coisa que me deixaria a sentir mal se fosse eu a fazê-la para me levar ao estado raivoso... Pensar que fiz algo assim... Pensar que errei... Pensar que fui estúpido ao ponto de fazer algo tão brutalmente errado. E quando os vejo fazê-lo... Vejo-me a mim... Não têm nada a ver comigo, contudo.
    Talvez desde o meu décimo ano... Talvez desde o meu primeiro beijo... Talvez desde o momento em que me senti não desejado... Um momento em que nunca fui central para ninguém... Um momento que apenas me fez sentir sozinho... Mas não me apercebia disso, ignorante... Sentia sem o saber... Não pensei... E depois veio um beijo, mas senti que era falso... Senti que não fazia parte de ninguém na mesma... Vieram outros e quis acreditar que eram verdadeiros, mas acabei por cair da ilusão e cair no penhasco negro. Senti pela primeira vez o que nunca tinha sentido: um sabor de agonia por não me sentir especial, vontade de sentar-me nas escadas a pensar no que não podia tocar.
    E entrei num mundo virtual... Tantos que falaram comigo. Senti-me especial e útil. Mas... Aprendi que o virtual é falso... Não vejo um sorriso de satisfação por falarem comigo. Vejo palavras que podem muito bem ser falsas, não sentidas. E achei-me novamente alucinado.
    Pus na cabeça que não valia a pena esperar que me tivessem como especial. Dediquei-me ao que me fazia esquecer os meus pecados, os meus erros, as minhas alucinações. Mas acabava de me meter noutra: ignorar os factos, os erros. O que podia ter aprendido com eles... Basicamente esqueci. Tentei ilustrar sentimentos, mas o Amor não me apareceu e vim-me desesperado à procura dele... Acabei por cair em mais erros por os ter esquecido. Um ano de tristes erros que poderia ter evitado... Esperança que acabou por ir apodrecendo, um tumor de dor no coração que ia criando raíz... Vinha uma, vinha outra, mas acabava sozinho no quarto.
    Tornei-me cada vez mais frágil às palavras e actos. Revoltei-me por me sentir tão enganado... Tanta coisa que parecia mas não era! Dezoito anos de ilusões... E será que continuo numa? Como é que é possível?! Já nem consigo perceber o que sou... Há uns tempos destinei a minha vida à minha morte: tornar-me algo no mundo e ser reconhecido por algo bom. Fui demasiado positivo? Não estarei a sonhar mais uma vez? Ser o centro de alguém? Talvez não funcione assim... E se funcionar... Já estarei morto.
    E não o estarei agora? O coração parece que de repente se virou contra mim, decontrolado... Será aquele tumor que so tornou cancro? Poderá já estar completamente negro neste momento... E não seria de estranhar... Com o que me passa na cabeça, com a raiva que ultimamente aumenta com uma aceleração horrivelmente para cima...
    Como me posso ver ao pé de alguém assim? Se antes mal queriam saber de mim, agora muito menos. Tornei-me uma pessoa que pode ser muito arrogante e directa. Deixei de ter cuidado com as palavras que usou, deixei de me importar com o que digo, desde que seja verdade. Não interessa se magoa...
    Quem sou eu? Julgo os outros ou julgo-me a mim? Quem está mal? Sou eu? Ou são os outros? Ambos? Não sei... Sei que em breve poderei não ser boa companhia... O controlo é afectado pelo coração, mas este já está controlado por um cancro maligno. Estarei louco?

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