21 novembro 2011

Perdi-me no desejo de me achar. Encontrar a saída dos meus problemas sem ter de sofrer com eles. Bem que tentei, mas acabei por me esbarrar na porta das suas casas, sem saber de quem era. Mesmo assim tentei entrar pelas janelas, embaciadas, opacas. Caminhei no sentido do que queria fugir, sem me aperceber. Tentei ignorar o caminho que seguia, sem pensar que podia ser um dos que nunca quereria saber o seu fim.

Foi um caminho simples. Tornei-me ignorante ao que me rodeia. Ignorei tudo o que aparecesse com um ponto de interrogação. Deixei os dramas da exclamação para trás. O ponto final substituiu vírgulas e os parágrafos foram constantes. E a história? A história ficou pobre. Deixou de ter a riqueza das minhas emoções, das minhas questões. Deixou de ter aquilo que de mim sempre tinha tido orgulho. Porquê? Porque fugia. E fugia no sentido negativo. Fugi no sentido oposto ao que alguém consciente foge.

E no meio da história, no meio de cada capítulo, ia-me apercebendo que não estava assim tão longe dos problemas. As caminhadas solitárias sempre me faziam reflectir. É verdade… A solidão até que é uma característica da minha riqueza. É ela que me faz procurar a desilusão. E desiludi-me. Felizmente! Apercebi-me do quão ignorante me tinha tornado. Tudo para conseguir ignorar os meus problemas passados. Verdade é que esses se foram com o tempo. Mas outros vieram ao esquecer o mundo. Ao tentar sorrir a emoção da minha alma ausente.

E agora que começo a acordar realmente, agora que o mundo está a voltar a rodear-me e em simultâneo rodeio o universo… Agora as coisas mudam. Já mudaram. E assim vai continuar. Não sei o que vem exactamente. Mas sei que me vou aproximar da minha ambição. Aquela que está recheada de desejos por realizar. Há que voltar a trabalhar por um sonho final. Há que manter-me acordado!

18 outubro 2011

Coração Arrebita!

Coração arrebitado que escondes?
Que refugias em ti, sólida parede?
Sei bem que é o passado…
Sei bem que ficou como que numa rede.

Apanhaste pó, abandonado.
Criaram-se teias no interior.
Prendeu-se o Antigo nelas. Armadilhado.
Ficou-te preso o perdido Amor.

A chuva da vista endureceu essa amoreira.
Criou raíz profunda. A pele rasgou-se.
Fez ainda crescer uma roseira.
E um lago com as restantes formou-se.

Em lágrimas não te afogues não.
Bem sei que bem sabes nadar.
Bate forte bate coração!
Esse passado um dia te irá largar!

Já progrediste! Já és capaz de sorrir.
Já evoluiste. Tens noção do que há a fazer.
Já vi o demónio, que em ti tens, rugir.
Continua! Continua assim a bater!

A morte é certa para vir a vida.
Mata a besta, quebra as teias.
Não chores, que a amora se torna guarnecida.
Manda as impurezas para as artérias e veias.

E um dia sentir-te-ás vazio, mas pronto a encher.
Terás de novo o teu cantinho.
Voltarás a emocionar-te e sentir ferver.
Irás aprender o verdadeiro carinho.

Coração que bates… Continua a bater!
Bate mais, bate sempre, agora, depois!
Sente a vida. Sente-a a escorrer!
Faz com que possamos sorrir os dois!

14 outubro 2011

Aventura Infernal: O Deserto

Justificar completamente Este é o segundo capítulo da saga "Aventura Infernal". Se ainda não o fizeste, lê o primeiro aqui: http://infinitohorizontal.blogspot.com/2011/08/aventura-infernal-estacao.html

O desconhecido não me assusta. Mas deixa-me ansioso. Ansioso por me surpreender, por ver algo novo. Neste momento sinto que não estou em algo conhecido. Tudo é diferente. Num comboio relaxado, passei a uma dimensão completamente isolada. Pelo menos assim parece... Apesar das vozes e sombras que continuam a aparecer por vezes...

Por mais estranha que seja aquela... estação... Tenho vontade de me meter à procura de mais respostas. Ali não vejo nada esclarecedor. Apenas mais confusão virá. Quanto ao deserto que se me afronta... Nada sei, nenhumas confusões até agora. Parece mais secreto porém.

Caminho em frente, descalço e com os pés ardentes. O calor intensificou-se, quase tão quente quanto a fornalha. Mas sigo. Nada de mais. Nada de menos.

Escrevo linhas de uma dimensão ao arrastar os pés rijos na pedra dura. Não é deserto de muita areia. Seguem-me até se pintarem de vermelho vivo. A fraca força de pernas leva-me a arrastar demais o pé direito e salta-se-me uma unha do dedo grande. A carne torna-se visível, rosada, enrugada, velha. Desprotegida, infiltram-se alguns dos poucos grãos de areia e preenchem-me o dedo de vários tonalidades de vermelho. Oh como sou feliz por ter tanta da cor que mais gosto!

Continuo a caminhar. A estação tornou-se num ponto agora que olho para trás. Está para trás! Caminhar até parecer invisível!

A minha pele começa a torna-se rugosa e desidratada. As forças, excepto a de querer caminhar, vão-se esgotando.

Ajoelho-me. Outra pessoa talvez pedisse ajuda a Deus. Mas de que me serve algo inútil e egoísta? Não! Sou eu que tenho de me resolver! E não há mais ninguém. Dependo de mim unicamente.

Continuo ajoelhado. Agora com as palmas das mãos no chão. Sinto o mundo (este mundo) mexer-se. Os meus olhos começam a revirar-se e uma linha negra vertical invade-me a vista. Tento interpretar através da minha nova visão. Com a audição oiço um pingar. Água? A visão não me permite concluir. Apenas consigo distinguir uma simetria, quebrada por uma linha, de algo no chão. Uma poça. Um lago?

Arrasto-me de joelhos sem gemer de qualquer dor. Abandono de novo a minha carne. Oxalá alguém a aproveitasse. E quem sabe?... Rastejo até ao "lago". As minhas mãos tocam num líquido bem fluido. Com o campo de visão quase a negro, bebo. Bebo e não saboreio. Alivia-me a sede. Arrefece-me o corpo. A visão começa a voltar.

Pinga. E continua a pingar. Mais rápido do que me tinha parecido. De onde? Apercebo-me de vários pilares de madeira tortos. Cerca de cinco... Seis. Em torno deste meu bebedouro. Cada um equipado com um corpo espetado num longo pedaço de metal afiado. Os corpos são deformados com os restos dos músculos a descoberto, já meio degradados. A zona do peito está aberta e apresenta ausência de coração. De dentro saem artérias e veias unidas como um grosso cabo.

E pinga! Pinga... Os restos. Porque me parece que esses "cabos" foram usados como mangueiras para encher este lago. Este lago onde saciei a sede. Onde me pus bom. Estranho... Fiz algo de errado?

Salto para dentro e consigo nadar um pouco na profunda mancha. Sinto-me refrescado. Sinto-me bem.

09 outubro 2011

Processos

Ser tão frágil que era. Como muda de repente e mal se veem alterações.

Quem sou e quem fui... É simples perceber-me que sou o mesmo de sempre. A minha capacidade de reacção ao que se me rodeou faz de mim o que era e o que sou. Pensar como penso fez-me pensar como pensava antes e como penso agora.

Mas certamente que o mundo me contagiou no que toca a pensar. O pensamento começa no que existe aos nossos olhos.

Apenas depois se criam os pensamentos profundos, reflexões. Cria-se algo novo, possível ou impossível.

E o importante a referir é que o vírus do meu ambiente me fez pensar no que pensei. Esse ambiente que tanto me questionou, tanto me fez pensar e, acima de tudo, me fez sentir. Emoções envolvidas no processo de pensar...

GRITA!

...Pensar no mal que nos fazem passar... Emoções que nos fazem chorar. Me fazem...

CHORA!

Lágrimas caídas no meu centro de massa, atraídas peça força emotiva. Tudo porque o ambiente me permitiu criar laços de tal forma sentimentais. A minha preocupação para com os outros... A ausência dela para comigo...

GEME!

Dor ausente nos sorrisos falsos. Sorrisos apenas para fortalecer os outros. Perco a energia a sorrir e depois perco a de sofrer a chorar mais por dentro pelos que usam essa força para me danificarem a mente.

SONHA!

O passado levou a este presente. Para fugir à tristeza procurei um mundo inexplorado por mim. Rodiei-me de tanta coisa, tanta diferença, tanto prazer. Sonhei. Sonho

TRIUNFA!

Esqueci emoções quase por completo. Cresceram vários sonhos e começo a pô-los em prática. Sei que um dia terei o meu sucesso. E aí esperarei pelo dia que me apareça a Morte. Sorrirei para ela e ir-se-á embora sem me levar.

Haverá um dia em que os esquecidos se irão lembrar. Será quando quiserem a minha partilha. Mas os meus sorrisos, a eles já não os levarão. Porém, irão ficar surpresos.

18 setembro 2011

Sentidos

Um dia visitou-me a Morte.
Subiu a escada infernal,
Trazendo a sua arma de corte,
E entrou-me a dentro pelo quintal.

“Pois porque me assalta a casa?”,
Perguntei eu, intrigado.
“Está na hora de ganhar asa!”
“Já? Qual foi então meu pecado?”

“Desejo de superar o Divino!”
“Não tenho eu esse direito?!”
“Não. Agora, se tem um pouco de tino,
Vire cá a cabeça para deixar isto feito.”

Descontente com a notícia:
“E se me levar um dos sentidos?”
Ao seu rosto vazio fez carícia,
Pensando nos segundos seguidos.

“Levarei todos então”, concluiu.
“Mas isso é pior que a vida levar!
Leve-me dois”. E ela se riu.
“Levo quatro e mais nada a falar.”

Pois que remédio tive. Amuei.
Com uma única sensação,
Como poderia sequer ser rei?!
Ah! Maldita seja minha tentação!

Mas que sentidos podia dispensar?
Escolher apenas um para mim
E mandar os outros passear?
Como posso escolher assim?

Então pensei na audição:
Ela nunca foi muito boa,
Não é a minha melhor sensação.
E até que há muito, que bem não soa.
Mas e da música que será feito?
E o seu Amar ao meu ouvido?
Ficará vazio, assim, o meu peito,
Por se ausentar tal que não é ruído.

O olfacto veio em segundo:
Cheirar o fedor da morte,
Angustioso que entra cá fundo?
Ficar sem ele talvez seja sorte…
E o seu perfume para onde vai?!
Ele que as narinas me dilata
E me faz sempre suspirar um ai.
Se mo tirar, assim me mata.

Pensei depois no paladar:
Terminará o gosto dolorido,
Comerei tudo sem me queixar.
Até o sabor de um mau comprimido.
Mas nunca mais terei aquele sabor
Do seu beijo que sabe a Perfeição.
Oh! Sem ele… Minha grande dor,
Será a minha perdição…

Já desolado, olhei ao tacto:
Não vou sentir entrar uma faca,
Serei quase imortal, serei um facto!
Não me queixarei, nem que na maca!...
E deixarei de os abraços sentir...
O calor de estar nela encaracolado,
O coração a bombear: o sangue a ir e vir...
Tudo isto... Tudo isto será passado!

E restou-me um: a visão.
Deixaria de ver a porcaria no mundo
E tudo aquilo que cega o coração.
Não saberia mais se estava no fundo...
Mas os seus olhos deixariam de brilhar,
O seu sorriso morreria eternamente,
O seu nariz nunca mais veria dilatar,
Quando na orelha beijasse suavemente.

“Leva-me contigo então.
Tornar-me-ia incompleto, imperfeito.
E a ela só quero dar a Perfeição.
Dá-lhe o que de mim não for desfeito”.
“Levo para o Inferno a tua alma.
Ficam-lhe os teus sentidos e coração.
Ficas com o direito à dor. Proibição da calma.
Dever de chorar ao dobro a sua emoção.”

“Leva-me de uma só vez...”
E assim nada se desfez.
Excepto os meus olhos que choraram,
O meu nariz que veneno inspirou,
Os meus ouvidos que rebentaram,
A minha boca que se selou,
As minhas mãos que nada tocaram.



Dedicado a uma pessoa que já foi tão especial... Finalmente terminei o que não fui capaz de terminar...

Rota de Sonhos Recolhidos

As pessoas podem sempre escolher
Entre um caminho e outros tantos
Podem optar por caminhar ou correr,
Ir em silêncio ou ir aos cantos.

Cada um escolhe. Uma única vez.
Infinitas vezes até à sua mortalidade.
Escolhe agora e para ver o que fez
Mal tem tempo, pois existe continuidade.

Para muitos, as opções são poucas.
Não abrem os olhos o suficiente...
É pena, pois de gritar estão roucas,
As várias soluções que ninguém as sente.

Falo por mim quando vejo tanto caminho,
Sem saber qual escolher primeiro.
Tanto para escolher. Por mim. Sozinho.
Mas sempre gostei de ser aventureiro.

Uso a mente para traçar o meu destino,
Uso os sentidos para ajudar no que é bloqueio.
Escrevo a minha rota com um rasto fino,
Para evitar mais poeira durante o meu passeio.

E em cada passo vejo um sonho perdido,
Que guardo no bolso, com entusiasmo.
A presença de cada um torna-me incendido
E passo a sonhar, sofrendo um doce espasmo.

Percorro assim a minha vida irregular
Recolhendo pesadelos de outrem
Deixados para trás por suas vidas dificultar.
Encho-me de sonhos. Até o que não convém.

No fundo quero apenas que desapareçam.
Quero realizá-los, trazê-los ao mundo.
Não deixar que assim pereçam,
Sem deixar a marca neste solo imundo.

Que adubem e fertilizem estas rotas,
Que tantos perdidos traçam.
Que os direccionem às não-derrotas,
Tornando belos os caminhos por onde passam.

16 setembro 2011

Se o Inferno me quer lá dentro, não fugirei do seu desejo.
Mas farei do Inferno meu Paraíso.
Uma das coisas mais difíceis de dizer é "perdoo-te mesmo que me tenhas morto".
E eu digo: Perdoo-te. Mas não existem mais oportunidades de receber o que tenho para oferecer.
Quando decido dar o meu melhor é quando decidem aparecer todos os obstáculos. Há que lutar...
Prometo que me deixarei orgulhoso.
Consegui-o. Descobri como ser livre.
O Amor está no ar.

Não consigo respirar.
Não existe o "para sempre".
Apenas existe uma febre.
Chamam-lhe de Amor.
Esconde-o e eu irei procurá-lo.
Mostra-o a todos e eu agirei como desinteressado.
As emoções apenas me deitarão abaixo. Deixa-me ficar no topo.
O momento mais importante é este instante.

É nele que se faz algo.

É a partir dele que se cria o resto.
Deixa-me parecer parado enquanto estou a fazer tanto.
Um sonho não pode ser para sempre um sonho.
Um sorriso não mostra nada sobre a pessoa.
Apenas incentiva a que o vê.
Precisavas de alguém e estava lá eu.
Eu e tu precisávamos de alguém. Eu lá estava.
Eu precisava de alguém e estava sozinho.
Um segundo é suficiente
O teu sonho: tu chama-lo de pesadelo, eu chamo-lhe de sonho.
O meu sonho: tu chama-lo de pornografia, eu chamo-lhe de pesadelo.
Sabes que mais? Eu não sou tu e tu não és eu.
Mas sabes, enquanto tu és tudo e eu sou nada,
Já fiz mais do que consegues ver.
Alguma vez fizeste as coisas que mais odeias pela pessoa que mais amas?
E os resultados são:
Para quê? Agora essa pessoa ama outro e tu odeias a que tanto amavas...
Olá, eu sou tudo o que estás a ver.
Tu não me vês, portanto não é preciso dizer mais nada.
Está tudo tão distante...

Deixaram-me?

Ou estarei eu a deixar tudo para trás?...
No meu caminho.
Não te metas a meio ou poderás ser esmagado.
Deixa-me sorrir para acreditares que sorrio.
No entanto, não me interessa no que acreditas.
No entanto, um sorriso faz os outros mais felizes...


Ao menos menos tristeza...
Odeio quando alguém me diz que me ama. Faz-me acreditar que sou amado e depois acredito no ódio quando descubro a verdade.
Sê feliz enquanto a minha loucura torna as minhas lágrimas em drogas.
Missão bem-sucedida. Conseguiram a minha Morte.
Daria um momento até a um morto.
Só teria de pedir por ele.
Não recebo pedidos.
Tenho muito tempo...
Diz-me o que fazer.

Não! Espera! Quero ser eu a descobrir as respostas por mim mesmo!
Só quero ser livre.
Este mundo não é uma merda. O problema é existir tanta gente com essa qualidade.
A paciência há-de voltar. Eu sei que sim.
Três noites, três dias. Está na altura.

11 setembro 2011

A Arte de Viver


Demorou o necessário.
Muito ou pouco: não interessa.
Sei como quero ser lendário.
Sei o que fazer. Não há pressa.

Até agora tinham sido facas,
Coração esventrado e amachucado,
Lágrimas caídas sobre estacas,
Rodeado de tanto e ainda assim isolado.
Um buraco negro com uma vela acesa,
Pairando sobre uma não-mesa,
Invisível no nada e no tudo, confusa,
Esperando que superasse a recusa.

Com uma chama tão fraca, sem aquecer,
Vivi no espaço junto do frio, congelado.
Porém, mundos giravam sem me ver.
E eu via tudo, mesmo imobilizado.
Não fazia nada, mas queria agir.
Queria alterar o que via sem ter de fugir.
Mas os braços mal se moviam
E as pernas pouco reagiam.

Um dia a chama intensificou.
Tornou-se mais quente e trouxe o calor.
A pedra de gelo derreteu e liquidificou.
Foi então que senti o famoso Amor.
Tão belo, tão quente, tão confortável.
Tão traiçoeiro, tão repugnante, tão lamentável.
Ilusões de perfeição e felicidade.
Desilusões nas palavras e na honestidade.

Mas naquele dia a chama permitiu mover.
Permitiu ver com mais claridade.
O suficiente para ainda querer viver.
O suficiente para lutar pela eternidade.
E a chama intensificou brutalmente.
Criei ligações imediatamente.
A força de querer tornou-se a minha chama
E o que quis foi tão forte, bem mais do que quem ama.

Antes sentia-me escravo do mundo,
Obrigado a ver e a servir sem me mexer.
Usavam-me para fruto de pecado imundo
E me esquecerem num buraco e nao mais ver.
Hoje sinto-me quase um rei:
Venham pedir algo e talvez vos darei.
Se não quiser, se não fizerem por merecer,
Sou livre de dizer que não há nada a oferecer.

O coração silenciou-se. Ficou frio e congelado,
Parado no tempo em que se desiludiu.
Mas não é a ausência de quem tinha amado,
Que me impede de subir um rio.
É a minha força que me chega para voar.
E voarei bem alto, pois alto sei sonhar.
E não bastando os sonhos, irei agir,
Pois sem acção nada se há-de construir.

Sei como o fazer. Será feito.
Serei eterno, mas não por ser O Eleito.
Será pelos sentidos sincronizados com a mente,
Elaborando a Arte de Viver a vida. Apenas e somente.

29 agosto 2011

Loucura de Dormir


É este um dos problemas da noite... É por isto que ganhei o gosto pela vida na noite... A noite, em que gostava de dormir... A noite, em que odeio dormir.
Quando durmo, durmo pouco. Não consigo dormir as horas recomendadas. No entanto, chega para produzir algo durante o dia seguinte. Produzir mais do que aqueles que dormem as 8 horas. Mas quando durmo, confortável, algumas horas a mais, sonho. E os sonhos costumam ser loucos. Loucos ao ponto de me fazerem rir da loucura que foi. Loucos de me fazerem querer chorar por me recordarem o que tentei durante tanto tempo esconder, tentar não mostrar...
Não choro. Não mais. Choro... Simplesmente não deito as lágrimas escondidas e secas de tanto tempo guardadas... Mas guardo tudo dentro de mim. Dentro de uma caixa trancada, que vou transportando todos os dias comigo, passeando o passado no meu presente, sem que se altere nada, sem que entre em contacto com ele.
Mas quando durmo e os sonhos se tornam de tal forma loucos, sem ser capaz de ter qualquer controlo, essa caixa pode abrir-se e deixar sair o que mais receio. Entra em contacto com os meus pensamentos presentes, atrofia-me o cérebro, deixa-me ficar mais louco e a noite torna-se dolorosa. E o dia torna-se mortífero.
Mas não morro, não. Por mais louco que fique, consigo equilibrar o meu estado de espírito. Consigo-o com consequências, mas consigo-o. E neste momento, por mais louco que esteja, por mais falta de sanidade que exista dentro de mim, tenho uma vontade de viver. E é apenas essa vontade que me faz estar aqui. Vivo. Fisicamente e mentalmente. Emocionalmente... Talvez nem tanto, pois fechei essa caixa. Pelo menos aquela que tem um passado de rosas. Aguardo o dia em que as minhas lágrimas interiores se tornem ácidas e acabem por matar todas essas rosas. Que matem completamente o que tenho cá dentro. Não bastam os picos, pois as próprias pétalas magoam. Que morram! Que dêem espaço a plantas mais belas no futuro...

23 agosto 2011

Aventura Infernal: A Estação

Este é o segundo capítulo da saga "Aventura Infernal". Se ainda não o fizeste, lê o primeiro aqui: http://infinitohorizontal.blogspot.com/2011/07/aventura-infernal-comboio-do-inferno.html



Uma estrela negra aquece este espaço isolado. Pergunto-me... Como pode haver uma estrela aqui... Tão fundo... Onde estou mesmo? O Inferno pode ter estrelas? Como pode ter o Inferno uma estrela, que existe no céu, onde supostamente seria o Paraíso? Talvez alguém me explique por aqui...
Não há ninguém. Não há sombras... Há! Não... Não sei o que acabei de ver. Uma mancha negra moveu-se no solo. Foi tão rápido que não percebi o que era. Teria passado algum animal? Voador? Olho ao... “céu” mas encontro-o vermelho, sendo que as únicas manchas são os diferentes tons de vermelho, causados pela estranha estrela.
Volto a dar uma olhadela para o solo arenoso, mas continuo sem ter notícias de qualquer movimento. Decido caminhar até à estação que se depara à minha frente. Arrepio-me um pouco ao observar os ossos humanos de perto, alguns ainda com pedaços de carne, outros já comidos e lambidos de alguma forma.
Atravesso uma pequena ponte instável de madeira podre. Em cinco passos seria ultrapassada, mas fico no meio e observo a lava a escorrer por baixo de mim. Imagino-me a cair e ver o meu corpo derreter como manteiga, deixando um fuminho a carne assada, mas rapidamente transformado em queimado e o meu corpo não seria mais do que alguns minerais no mundo... Ou no Inferno.
Volto a mim e continuo até ao estabelecimento, que até ao momento me parece deserto. O único som que ouvi desde que saí do comboio foram as vibrações do calor. Devo estar nalgum deserto...
Ao tocar na porta de entrada, que se encontrava inclinada praticamente vinte graus para a direita, esta cai-me sobre os pés, pesada, de uma madeira antiga e com pó. Solto um pequeno uivo de dor, mas rapidamente me dobro para levantar aquele peso morto. Não há luzes, não há vida. Acabo por entrar às escuras e o calor intensifica-se. Oiço agora o som dos meus passos, que por pouco não devem esmagar o chão, tão frágil que está agora. Mais madeira podre...
Exteriormente é um edifício pequeno, de um andar apenas, sendo possível ir apalpando por dentro, mesmo sem qualquer luz. Os meus olhos já estão um pouco mais adaptados à sua ausência. Mais um ponto a favor.
Começo por me aproximar da fonte de calor, seguindo o sentido mais quente. Após alguns passos, apercebo-me que estou junto desse coração. Aos apalpões tento procurar algo. Num dos toques dou um pulo. Queimei-me! Tiro a t-shirt e dobro-a, calço-a como uma luva e tento perceber no que me queimara. Com a ajuda do tacto e da visão melhorada, apercebo-me de uma porta, pequena, ainda quente. Puxo-a, por forma a abri-la. A força já vai no limite, mas não se abre. Continuo a exercer força, pensando se será precisa alguma chave e neste momento...
A porta abre-se e saem gritos de dor de dentro dela. Tapo os ouvidos, pois os gritos rebentariam com os meus tímpanos, se não o fizesse... Pararam agora e mesmo assim sinto um zumbido...
Apercebo-me do clarão espontâneo. A porta era de uma fornaça, acesa ainda, e iluminou toda a área. Posso ver agora tudo... Posso ver as cruzes ensanguentadas, as forcas penduradas no tecto... Estranho... As forcas parecem ter alguém pendurado, mas não vejo nada. Olho para o chão... Vejo uma sombra... Move-se ligeiramente... Os meus olhos deixam de mexer ao mesmo tempo que a mancha negra. Algo perturbador...
Tento analisar melhor o estabelecimento e apercebo-me das consequências das minhas acções... As cordas das forcas estavam ligadas à porta da fornaça... Quando a abri, parece que activei a engenhoca... Mas não vejo ninguém... Louco por perceber, olho para as cruzes, ensanguentadas e sem ninguém. Também uma sombra se encontra abaixo delas. Aproximo-me e, ao afastar-me da fornaça, que queima o som com chamas ruidosas, consigo agora ouvir um borburinho. Aproximo-me mais, mais, mais... Uma voz parece vir das cruzes... Um gemido de dor... A agonia começa a encher esta divisão única. O som torna-se mais intenso e o eco dos gritos doloridos entra e sai constantemente na minha cabeça. Sem aguentar mais, corro para fora, a suar, louco de incompreensão.
Que se passa?

22 agosto 2011

Um Sonho Final


A velhice acaba por chegar, em princípio, espero eu, esperam todos. Alguns...
A morte, essa, é certa. Mais certa do que a velhice. Falo da morte física.
Mas o que é morrer? Fisicamente é óbvio: o corpo deixa de ser capaz de se mover por si mesmo, não é capaz de produzir nada, enfim.
Há quem fale na memória... Só morremos quando nos esquecemos. Então... Se nos lembrarem para sempre, seremos imortais. Ou, pelo menos, viveremos mais tempo. A memória de nós existirá para além da nossa morte física.
Porém, quando o nosso corpo já mal se aguenta, é normal ocorrer uma questão: fiz tudo o que queria? Concretizei os meus sonhos? Fiz algo por eles? E a resposta poderá deixar um morto feliz ou triste.
Eu já fiz essa questão a mim mesmo. Sou jovem, mas tentei imaginar-me velho e a morrer. Óbvio que não consigo imaginar-me completamente. Sinceramente, nem me imagino mortal. Existe uma sensação de imortalidade dentro de mim. Talvez por ser jovem.
Não consigo responder neste momento. Como posso? Não sei o que terei conseguido fazer até lá. Mas fez-me pensar no que gostaria de ter feito quando chegasse o momento. E comecei a sonhar.
Sonhar dá-nos ideias. Através de sonhos conseguimos construir algo usando-os como base. Ou será o contrário? Através de algo que vemos construimos sonhos. Sinceramente parece-me que seja um pouco dos dois. Primeiro vemos o mundo, sonhamos com algo diferente, concretizamos um pequeno sonho e queremos mudar algo mais e voltamos a sonhar mais alto.
Falo por mim quando digo que a vida é feita de pequenos sonhos que se vão criando ao longo dela. Sonhos que num momento podem não ter nada em comum, mas que no final tudo se encaixa e nos torna quem realmente somos. Quero morrer a sentir que completei o encaixe entre todos os meus sonhos.
Então surgiu-me um sonho, grande, complexo e simples, feito de todos os meus sonhos: o sonho final de uma vida: da minha vida. Sempre desejei deixar uma marca, tornar-me uma memória. Uma boa memória. Um exemplo. Portanto o meu sonho final iria inspirar as pessoas.
Passando a uma pequena descrição dele:
Num terreno no meio do nada, onde por algum motivo as pessoas nunca tenham habitado ou se tenham ido embora, iria ser construído tudo. Teria de ser um terreno grande, suficiente para uma espécie de palácio, um espaço verde exterior e um extra.
No interior desse palácio, iriam estar várias salas para cada uma das áreas do mundo, para as artes. Cada uma teria um pouco de tudo do que há de melhor em cada área. Existiria uma sala para cada um dos meus sonhos, concretizados e por conretizar, e os sonhos de outras pessoas que me tivessem cativado. Todas as salas estariam construídas de uma forma totalmente organizada, de forma a criar um simbolismo escondido no meio de tudo e nas pontas isoladas. Nada do que fosse construído seria por acaso: haveria sempre algum significado. Os ornamentos das portas e das paredes, a cor das janelas, as coordenadas de determinado objecto, enfim.
No exterior, seria reproduzido o melhor da Natureza: as mais belas plantas do mundo, as espécies animais mais raras, os efeitos mais fantásticos criados pelos diferentes climas. Novamente, tudo seria colocado de uma forma organizada, sempre com algum significado por trás.
Por fim, haveriam caminhos, grutas, tudo o que pudesse surgir na minha mente, que iriam acabar por fazer ligações entre o palácio e o exterior e até a outros locais especiais.
O objectivo seria cativar os sentidos primeiramente. Posteriormente, quem visitasse este local, sentir-se-ia obrigado a perguntar “porquê?”: entraria na fase de reflexão. Acabaria por tirar conclusões com a maravilha de tanta coisa. Esperançoso, iria criar um estímulo suficiente para seguir os seus sonhos ou até para criar novos sonhos.
De uma forma simples, este é o meu sonho final. Mesmo que não chegue lá, talvez inspire alguém a fazer algo idêntico.