Primeira palavra, para que saísses e ficasses, doloroso foi. Do pensar
que te querias formar. Da escuridão a que te tentaste agarrar. Palavras formadas
em formato de reflexão que desapareciam. Ideias soltas que se agarraram em
caminhos de íris cheia, mas que se acabaram a desabraçar-se por se quererem
formar.
Irónico… Irónico como as últimas que proferi, que consegui
transformar, me esboçavam a desejar acções, a ultrapassar a palavra, superar o
dito pelo feito. E agora… Agora custa assim começar a escrever. E acções? Não,
nada disso. Muito longe estou disso. Um sentimento de voltar atrás. Ou talvez
nem isso. Não sei se alguma vez vivi em tal estado.
Mas é certo que escrevo. É certo que superei algo. Devo eu ficar feliz
com isto? Devo esboçar um sorriso por saber que fui capaz de voltar a fazer
algo eu fazia antes? Algo que abandonei, a que fraquejei… E que no entanto,
pode não passar de uma volta temporária… Palavra agora que silencia mais tarde…
É interessante que escrever passou a ser acção. Era algo natural,
considerado instinto para mim. Era expressão do pensamento, do sentimento, da
imaginação… Era algo que não precisava de séria construção.
A certo momento precisei de esforçar a escrita... Quis desenhar uma
letra, carregar num botão. Tudo isso implicou a borracha, um traço por cima e
de seguida o abandono. A acção (ou desacção) de desistência, derramando sobre
mim mesmo qualquer linha que tivesse surgido previamente na cabeça,
desaparecendo com o meu respirar.
O receio foi responsável. De alguma forma ganhei hesitação na partilha
dos pensamentos. Guardei-os em mim, fora de alcance. Por vezes tentei
mostrá-los, mas falhei quando me negava automaticamente com a justificação de
que teria de ser forte e vivê-los sozinho. Cada vez mais me fechei neste mundo
de ideias invisíveis por fora, proibindo-me a mim mesmo de me expressar. “Superei”
o escrito. Acções, emoções, falsificação de expressões. Dizer que sim quando
penso que não. Fazer algo que considero errado. Expandi os meus limites sem me
aperceber deles. E a expansão não tem de ser sempre boa.
De qualquer forma, algo superei. Talvez o cansaço de nada fazer e tudo
pensar me tenha feito ganhar coragem de retomar o caminho que construí
anteriormente. Não. O caminho que pensei construir, mas que nunca passou do
pensar. Certamente… Certamente avancei mais na acção do que antes. Mas
certamente… Certamente tenho ainda de recuperar algo que perdi de mim… Algo que
faz a minha cara, a minha pessoa. Sem essa minha essência, sem a recuperar, não
vale a pena sequer passar ao próximo nível. Também os mundos se constroem por
partes.
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