07 agosto 2025

Pedido

 

Não sei se estamos no sítio certo.

Queria começar onde se acendeu.

Mas que pelo menos de mim perto

Estejas a ler com a luz que deu.

 

Acordo e adormeço e estás sempre lá.

E o pensamento, sonho ou realidade,

É que estejas sempre cá,

Próxima, a sorrir de verdade.

 

É um desafio se me queres.

Já o sabes e tens aprendido.

Mas acredito também saberes,

Que a ti quero estar unido.

 

E se me aceitares as imperfeições,

Vais perceber que te tenho a dar

Um mundo escondido de corações

Uma vontade grande de amar.

 

Esse mundo tem-me metido medo:

Vida de traumas e experiências.

E apesar de parecer-me cedo,

Isto não explica as ciências.

 

Falo contigo do que quiseres,

Faço contigo o que te apetecer.

E sorrio com o que comigo fizeres,

Sorrio por me fazeres aparecer.

 

Realmente algo se acendeu.

E quero libertar este mundo,

Escondido, mas que contigo estremeceu.

Bate forte cá no fundo.

 

Então espero que seja suficiente

Com a promessa de ser melhor.

Podemos seguir agora em frente?

Queres ser o meu par, amor?

07 janeiro 2015

Ambição



Ambição. Palavra que me persegue desde que me lembro. E desde que me lembro cada vez mais ambicionei. Raramente me contento com algo. Se algo corre bem para os outros, para mim podia ser melhor. Não me desanima, mas… Pode ser diferente.

Ambicionei, ambiciono e continuo a ambicionar cada vez mais. Porém não passou disso: do mesmo nível, da mesma etapa... Continuo a querer, a pensar no que fazer, a imaginar como seria, a sonhar… Há quem se contente com um único sonho e se foque nele. Alguns conseguem, outros não; alguns tentam, outros não. Eu… A cada dia crio um novo sonho. E não, não deixo os outros para trás. Perseguem-me todos, todos os dias, somando-se uns aos outros.

Só posso culpar a vida ter tanto por onde pegar. Tudo o que é novo me desperta a atenção. Em especial o que é difícil, o que é “inatingível”. A sensação de sentir que tenho um desafio faz-me sentir vivo.

Ainda assim, é também isto que me pode deitar abaixo. Com tanto que quero e tanto desejo, acabo a não saber no que pegar primeiro. Acabo sem acabar, deixando tudo por começar… E cada vez mais me sinto incapacitado. Vejo cada vez mais para fazer e nada a ser feito. Esta relação de crescimento deixa-me a cabeça descontrolada, confusa. Acabo a usar esse tempo no que menos interessa, no que, na realidade, não sonho. Perco-me em serviços da vida que contribuem apenas para o prazer instantâneo, sem qualquer benefício futuro. Não no futuro que quero.

E a essência da vida perde-se nos sonhos que se criam e ficam por concretizar. A sensação de ser fraco ao ponto de não os levar em frente… Seriamente acredito que sozinho é complicado, talvez impossível. Mas sonhos destes… Sonhos tão ambiciosos apenas são realizados por gente forte. Gente realmente ambiciosa. Eu? Eu ridicularizo-me, desconfio de mim, faço troça de mim. Envergonho-me das minhas acções e desacções… Enquanto isto, passa o tempo.

E com o tempo, cresce a mente, os receios, as fraquezas. Mas crescem também as forças, a vontade de o aproveitar, de o querer fazer florescer e, finalmente, ver sonhos, não nascer, mas sim crescer num produto vivo, num pedaço de arte do que sai da imaginação fértil e ambiciosa. É preciso força e trabalho. É… E acima de tudo, é preciso coragem. Porque sem ela, não há como se levantar das várias quedas de tão grandes sonhos. Pois tanto alto se quer subir, maior o risco de cair. Mas quanto mais se quer, maior essa a coragem de continuar tem de ser.

04 janeiro 2015

Mal Adormecido



Devaneando sobre nuvens escuras
Observáveis por órbitas lunares.
Pesadas, escondem torturas.
Densas, bloqueiam tantos mares.

Acções perdidas no seu cansaço.
Evapora-se o tempo de luz ausente,
A nada permitindo o que faço.
Realidade tornada inexistente.

Fraco e forte me recrio vivo e morto,
Descansando enquanto me canso.
Tal paradoxo me retira o conforto,
Sou em simultâneo bravo e manso.

O desnível destabiliza a (des)mente.
Ansiedade por acordar da realidade,
Enquanto os sonhos orbitam em frente.
Tal força torna-se fragilidade.

Fraco, mantenho-me acordado,
Faço frente ao sonho real.
Sem força, como se anestesiado,
Cai-me das mãos este Ideal.

Nada suporto, tudo se vai.
Com fraca força a tempo inteiro,
Serei eu o próximo que cai?
Ou fechar-se-ão os olhos primeiro?

03 janeiro 2015

Palavra Perdida



Primeira palavra, para que saísses e ficasses, doloroso foi. Do pensar que te querias formar. Da escuridão a que te tentaste agarrar. Palavras formadas em formato de reflexão que desapareciam. Ideias soltas que se agarraram em caminhos de íris cheia, mas que se acabaram a desabraçar-se por se quererem formar.

Irónico… Irónico como as últimas que proferi, que consegui transformar, me esboçavam a desejar acções, a ultrapassar a palavra, superar o dito pelo feito. E agora… Agora custa assim começar a escrever. E acções? Não, nada disso. Muito longe estou disso. Um sentimento de voltar atrás. Ou talvez nem isso. Não sei se alguma vez vivi em tal estado.

Mas é certo que escrevo. É certo que superei algo. Devo eu ficar feliz com isto? Devo esboçar um sorriso por saber que fui capaz de voltar a fazer algo eu fazia antes? Algo que abandonei, a que fraquejei… E que no entanto, pode não passar de uma volta temporária… Palavra agora que silencia mais tarde…

É interessante que escrever passou a ser acção. Era algo natural, considerado instinto para mim. Era expressão do pensamento, do sentimento, da imaginação… Era algo que não precisava de séria construção.

A certo momento precisei de esforçar a escrita... Quis desenhar uma letra, carregar num botão. Tudo isso implicou a borracha, um traço por cima e de seguida o abandono. A acção (ou desacção) de desistência, derramando sobre mim mesmo qualquer linha que tivesse surgido previamente na cabeça, desaparecendo com o meu respirar.

O receio foi responsável. De alguma forma ganhei hesitação na partilha dos pensamentos. Guardei-os em mim, fora de alcance. Por vezes tentei mostrá-los, mas falhei quando me negava automaticamente com a justificação de que teria de ser forte e vivê-los sozinho. Cada vez mais me fechei neste mundo de ideias invisíveis por fora, proibindo-me a mim mesmo de me expressar. “Superei” o escrito. Acções, emoções, falsificação de expressões. Dizer que sim quando penso que não. Fazer algo que considero errado. Expandi os meus limites sem me aperceber deles. E a expansão não tem de ser sempre boa.

De qualquer forma, algo superei. Talvez o cansaço de nada fazer e tudo pensar me tenha feito ganhar coragem de retomar o caminho que construí anteriormente. Não. O caminho que pensei construir, mas que nunca passou do pensar. Certamente… Certamente avancei mais na acção do que antes. Mas certamente… Certamente tenho ainda de recuperar algo que perdi de mim… Algo que faz a minha cara, a minha pessoa. Sem essa minha essência, sem a recuperar, não vale a pena sequer passar ao próximo nível. Também os mundos se constroem por partes.