16 janeiro 2012

Vontade

Do pensar ao agir, longa distância,
Se escrevem rotas longas e curvadas,
Apetrechadas de horror e elegância,
Onde tudo vale: facas, flores, dentadas.

O mais difícil dos caminhos a percorrer,
Exaustivo, deprimente, isolador.
Num momento o verbo é quase “fazer”,
Mas por motivos secretos passa a “desolador”.

A tentação é o inimigo primário:
Afasta-nos do nosso objectivo,
Criando realidades do imaginário,
Que nos levam a fugir ao produtivo.

Não é que não façamos nada.
Simplesmente fazemos algo diferente,
A tarefa escolhida é a errada.
Mas um choque temporário afecta-nos a mente.

Tanto que custa reproduzir um pensamento.
Por vezes dorme-se, imaginando o resultado:
Por perfeito que seja, continua num estacionamento,
Esperando a sua vez de ser adoptado.

Ah! Força maldita que a tantos falta!
Essa vontade tão pobre e desgraçada…
É preciso existir mais no meio da malta!
Ai esta força… Tão abandonada…

Que é deste povo que nada cria?
Os jovens que deviam ser inovação,
Preferem passar pelo alcóol numa noite fria,
A realizar algo que lhes pede o coração.

Poucos sonham e os que sonham nisso estaca.
Raros os que tentam. Os que repetem ainda mais.
Desistem tão facilmente. Gente fraca…
E depois desesperados procuram por sinais…

O sinal está nessas testas! Todos pensam!
Mas falta usar a cabeça! Falta agir!
Há que haver vontade. Quando começam?!
Não há tempo para preguiça nem fugir!

É viver para o que queremos,
Não é pelo que nos vai fazendo esquecer!
Nós, pessoas, somos o que fazemos:
Recrias o mundo ao teu gosto e tens todo o poder.

14 janeiro 2012

Vive o Morto-vivo

No meio de um campo de minas: dás um passo e podes estar morto. Ficas parado e a fome alimenta-se de ti, regurgitando a tua alma silenciosamente no obscuro de um mundo perdido. Decides avançar e podes ter bilhete directo para a saída do Inferno. Ficas quieto e alguém aparece para te salvar.

São hipóteses. Meras hipóteses. No final interessa o que aconteceu: as acções tomadas. Os pensamentos de nada servem, a não ser para atrofiarem uma mente que receia abandonar o corpo em breve. Instintos… Sorte? Ou azar… Um ser morto não poderia mais pensar no seu futuro. Presente e passado muito menos. Jaz ali o final de um ser, que mais acções não poderá tomar. O ser vivo sabe o que fazer, minimamente, para assim continuar durante um pouco mais: prepara o seu futuro, conforme o seu pensamento e raciocínio consequente, sem confusões em demasia na cabeça, evitando possíveis incapacitações de acção conforme… O instinto, ou a sorte, ou como se quiser chamar a tal essência.

Porém não jaz o homem ou a mulher, quando mal mortos se deparam com o Paraíso na presença do Inferno. Inconsistência no pensamento… As acções tornam-se nulas, levadas pela tentação do momento. Escritas pelo que dominar melhor o corpo… Vive ou morre? A opção de escolher é um direito. No entanto não implica que assim seja. Pode querer viver, mas acabar morto. Ou vice-versa.

No primeiro caso, não há mágoa. Não estará mais vivo para repensar a dor de não ter cumprido o que havia por realizar. No segundo, a vida muda. Homem que viu o Inferno e voltou à Terra, vê um mundo completamente diferente. O que parecia modo de viver, é aos seus olhos um cuspir na cara dos que já não têm tal oportunidade. Aqueles que fariam algo que seria considerado… viver.

Que faz o morto-vivo ressuscitado? Procura uma razão para viver. Procura uma razão para não ter ido de vez. Procura. Cria. Imagina. Sonha. Transforma a sua vida à base de sonhos. Sonhos que viu sumir à sua frente na brecha do imortal.

Em simultâneo, perde-se. “Porquê os sonhos?”, “Porque se uniram a mim?”. Possuído pelas ideias mais fantásticas e radicais, sem saber por onde começar, acredita que os sonhos não passam de… sonhos… Desliga assim a sua capacidade de agir, caindo num sono profundo, sonhando…

Até que certo momento, no seu sono, as coisas tornam-se demasiado… reais! O que o rodeia preenche-lhe as noites, como se se mantivesse acordado, a viver… A viver conforme o seu pensamento! Aqueles sonhos semi-controlados, em que as coisas acontecem como imaginamos. Então, se as duas dimensões se misturam assim, é porque há uma relação! Existe algum elemento de conexão!

Surge assim uma pequena luz na sua mente, que lhe abre um pouco os olhos, o suficiente para procurar o que realmente falta. Se a luz se apagar, talvez não hajam mais oportunidades… Então, o importante é mantê-la acesa e ir-lhe dando energia para que se expanda a todo o corpo e, por fim, transferir os sonhos a uma realidade.

04 janeiro 2012

Julgamento

Chegou o momento de encarares a verdade. Serei eu a dizê-la. Serei eu a julgar-te, porque ninguém te conhece melhor do que eu. E porque já não aguento este nojo que tenho de ti, aqui vai a mensagem que tenho:

És uma pessoa inútil! Falas sobre os outros no meio de um silêncio obscuro, que ninguém se apercebe de que és tu que estás a dominar. Mas dominar o quê?! Não dominas nada! O único pensamento que passa nessa cabeça é que “consigo fazer melhor”. Essa tua ideia mais repetida que um ciclo infinito, sempre quando vês algo que não fizeste. Sabes o que isso é? Não passa de inveja! Não passa de vergonha de ainda não teres chegado aos calcanhares de outros!

Queres ter glória… Ser uma boa pessoa… Até isso ainda nem conseguiste ser! Não fizeste nada dessa vida até agora! Deixas tudo por acabar! Desistes sempre! Indivíduo fraco… Insistes em confiar em sonhos… Até não é mau, não. Mas não basta acreditar neles! Metes-me nojo que tenhas tantos e afirmes por aí que os vais realizar e no final de contas os que te rodeiam ainda fazem mais que tu sem sequer terem sonhado! Inútil!

Como pode haver alguém que seja tão triste como tu? Triste em diversos sentidos! És triste porque nem consegues ter o mínimo sucesso no que quer que seja! Triste, porque tentas mostrar-te forte e não passas de uma criança a fingir que não tem problemas! Ignorante! És triste, porque vives só e tentas mostrar que estás bem, que não precisas de ninguém, quando sabes que só vives à conta de outros! Por mais que o escondas, bem vejo que queres atenção. Queres ser desesperadamente o centro de algo…

Aí te falta o seres boa pessoa! Se fosses decente talvez tivesses gente ao teu lado! Talvez não estivesses constantemente a precisar de um empurrão de um desconhecido que por acaso meteu conversa contigo! E mesmo assim deixas que um empurrão positivo te empurra para o chão! E quem tem a culpa?! Lamento, mas não foi a outra pessoa, como responderias. É tua! Tua! Apenas tua! És tu que as afastas e tentas ser uma vítima da sociedade!

Tenho pena de ti. Muita pena. E sei bem como te magoa que tenham pena de ti. Faz-te sentir ainda mais inútil não é? As tuas desculpas ao teu insucesso… Arranjas sempre algo para culpar… Mas nunca decidiste culpar o teu carácter! Essa tua maneira de ser que não te deixa fazer nada! E não penses que isto é outra possível desculpa. O teu carácter é tua responsabilidade, portanto a culpa continua a ser tua!

E depois disto, gostava seriamente que mudasses essa tua atitude. Tu compreendes no fundo o que te quero dizer, por mais que te magoe. Sou o teu único verdadeiro amigo, aquele que te conhece completamente. Por isso mesmo fui directo. E assim continuarei a ser. Sei bem o efeito que tem um sermão em ti. Infelizmente não havia mais ninguém para to dar. Felizmente cá ando eu, o teu espelho.