14 abril 2011

A Lenda da Morte e da Não Morte

Na noite de hoje escrevo a lenda. Na noite de hoje, morre aquilo que era, aquilo que fui. Na noite de hoje, o Verão primaveril não é suficiente para evitar uma tempestade. Chove, rebentam trovões, quebram-se corações

A terra já frágil, gasta de tanto usada e mal tratada, tinha-se aberto novamente. Abriu-se constantemente e constantemente se quebrou. Deu a conhecer o seu núcleo já deformado à nascença. Ofereceu tudo o que tinha para dar. Ofereceu tudo, ficou sem nada, tudo fugiu. Quando algo foge, leva um pouco de terra presa nos sapatos. E reduziu-se a metade. Já de uma dimensão minúscula, tornou-se um meio do que mal se via. E nada se viu depois.

Mas por não se ver não quer dizer que não existe. Por não se ver significa que está no meio de ignorantes que não querem saber daquilo que vale a pena. Não querem olhar para o que é mais difícil, não querem olhar para onde a verdade pode estar, não querem olhar para onde poderia ter estado a felicidade...

A última não faz sentido. A felicidade faz parte do não olharem. Eu olho. Eu olhava. Eu fui feliz... Fui? Talvez tenha deixado de observar o que devia... Talvez a terra sentisse uma pisadela e pensasse que tinha um novo amigo, ou um novo amor... Mas no fundo não passava de algo de passagem. Por vezes ficavam com o pé preso, pois a terra era tão frágil, que acabava por parecer areias movediças. E a terra acreditava que lá estava porque queria. Um dia torna-se mais rija e confiante, a perna solta-se e lá se vai o amigo, o amor, a felicidade, a sensação de vida, a rigidez...

Se sou algo e estou nesta sociedade, quando ofereço, levam mais do que deviam. Levam pedaços de mim. Não por quererem, mas sim como se fosse um saco com doces, em que só interessam os últimos. O saco é deitado fora e nem reparam nele.

E por tudo isto, a tempestade se dá hoje. Existe um limite. O limite é ficar reduzido a zero. O limite é terem sido partilhados sonhos e destruídos em tão pouco tempo, tantas vezes. O limite, é a vida passar à minha frente, no meio de um trovão, e perceber que há coisas que não são para pessoas como eu.

Tudo fica negro nesse momento. Tudo parece morrer. Eu morro. Eu vivo. O coração não bate. O que mudou? Tudo. Nada. Sou eu. Mas não totalmente. O fogo agora queima-me a alma, os olhos brilham como raios, os sonhos enchem-me a cabeça. Oh, os sonhos! Tantos que eles são! Tantos que eles eram! Tantos que serão tornados realidade! Mas... Nada relacionado com certas emoções... Um sonho poderia ser voltar a amar, ser feliz. Mas quem ama de coração negro, queimado, podre, rasgado, partido em tantos pedaços que preenchem os limites do universo? Amo os meus sonhos, não amarei ninguém.

Cai agora! Senta-te e escuta! Ouves? Se não ouviste é porque não tomaste atenção. Acabou de cair um trovão. Alguém morreu, alguém nasceu. Não houve sequer um cadáver. Apenas... A morte do Amor.

10 abril 2011

Evolução no Homem

Para quem nunca ouviu falar (devem ser poucos), o Darwinismo é, basicamente, a Teoria da Evolução. Inicialmente elaborada por Darwin, sem explicações completas, acabou por se tornar numa teoria que associa a evolução a genes, cromossomas, mutações, etc. Ora, o que leva à alteração de tudo isto, de acordo com a teoria, é o ambiente. Por outras palavras, um indivíduo sobrevive consoante a sua adaptação ao meio ambiente. Como tal, visto que a maior parte das espécies habita um determinado espaço, durante certo tempo, a natureza selecciona os mais resistentes, os quais irão passar os seus genes às gerações futuras. Desta forma, uma população submetida a determinadas condições ambientais, ao longo de um intervalo de tempo irá modificar-se no sentido de adaptação.

Olhemos agora para o ser Humano, também um ser vivo, de uma determinada espécie. Olhemos para o Homem actual. O que eu vejo é uma espécie capaz de controlar o ambiente quase na sua totalidade: não conseguimos parar tornados nem tsunamis, mas temos a tecnologia para prever e oferecer soluções para várias catástrofes e diminuir em muito as consequências; a medicina moderna, higiene e tratamento da alimentação permite um indivíduo sobreviver até muitos anos, mesmo que tenha muitos doenças, muitas delas passadas geneticamente. Podia continuar a enumerar os vários desenvolvimentos ou até mesmo aprofundar os referidos. No entanto, não é esse o ponto que quero salientar.

Muitos consideram o que mencionei como a Evolução do Ser Humano. Na verdade trata-se de desenvolvimento de uma Sociedade. Desenvolveram-se mil e uma maneiras de controlar vários pormenores naturais para oferecerem mais conforto a esta Sociedade, Comunidade, População. Mas no que toca à evolução do ser humano, o que acontece à teoria do “mais resistente”? O que direi abaixo irá ter em conta apenas os países desenvolvidos, visto serem esses que dependem essencialmente da Tecnologia.

Primeiro de tudo, a espécie humana ocupa uma área completamente gigante comparada a qualquer outra espécie. Habita uma variedade de ambientes, alguns extremos de outros. Seria de esperar que isto levasse à escolha do mais resistente e, portanto, o Homem fosse diferente em vários locais. Mas tal não acontece. O que acontece é que se usam aparelhos que permitem equilibrar o ambiente para o pretendido e, como tal, tanto os que têm os genes “resistentes” como os que não os têm, sobrevivevem praticamente o mesmo tempo.

Em segundo lugar, hoje existe uma mistura de pessoas de vários locais. É certo que o Homem se modificou de acordo com a teoria da evolução e existem indivíduos com características melhores para um ambiente do que para outro. Mas ao reproduzirem-se com indivíduos que seriam de outro local no passado, poderão estar a eliminar determinado gene. Por exemplo, um indivíduo que trás das suas gerações anteriores um gene que permite aproveitar melhor o ar inspirado, se se reproduzir com um outro indivíduo que tem uma doença pulmonar e o gene herdado pelo filho for o do segundo, então o gene desaparecerá. Poderá também acontecer o contrário. Mas o que quero dizer é que, como a informação genética individual já não tem grande importância para a sobrevivência, poderemos acabar por ser constituídos apenas pelos genes menos bons. Como tal, a nível evolutivo, poderemos estar a convergir para um nível médio em vez de melhorarmos.

Será que isto tem importância? Neste momento estamos dependentes da Tecnologia e é ela que nos permite sobreviver. Mas olhemos por exemplo para o Aquecimento Global. Daqui a uns anos poderá estar pior e a nossa solução foi desenvolver a tecnologia de forma a contrariar esse efeito de aquecimento. Imaginemos que o grau de evolução da Tecnologia é muito inferior ao do aumento do aquecimento. Então quando for superado o limite, sentiremos na pele um calor muito extremo e não iremos sobreviver. Por outro lado, se não existisse Tecnologia, o nosso corpo poderia conseguir-se ir adaptando ao longo do tempo e poderíamos sobreviver ao mesmo limite, pois a adaptação natural seria muito maior.


É decerto algo que me intriga um pouco. O que será correcto? O que deveremos fazer? Questões que me levam ao cume da reflexão.