28 janeiro 2010

Eu, o Espelho e Eu

Observo o solitário espelho embaciado,
Temendo o que por trás daquela neblina me apareça.
Aguardo pacientemente que se torne revelado.
A curiosidade é muita, mas começo a perder a cabeça.

«Que escondes tu, oh espelho?», decido perguntar.
Nada de resposta, nada de tesouro encontrado…
«Responde-me, que não morro sem o desvendar!»,
Mais uma vez o som do vazio; mais frustrado…

«É isto que procuras?», ergue-me o queixo o som!
Rasga-se um sorriso; maior a distorção…
Fico especado para o espelho, com cara sem tom.
Enfrento o meu rosto, a minha face sem expressão.

Não havia posto a hipótese de me esconder a mim.
Desvendo o meu rosto, mas a ele já o conheço…
«Como pudeste cobrir algo assim?!»
«O que te mostro aqui é algo sem preço.».

«A minha face? Para que me serve ela?»
«Permite que conheças com profundidade»
Mais nada se ouviu. Foco-me então nela.
Começo a sentir uma estranha amizade…

Conheço o que vejo. Mas que ideias nela estão?!
Meto conversa, em busca de tal saber.
Convergem divergências que partiram da união,
O que nos levou a concluir um novo ser.

Compreendo agora: de um, em dois se transforma;
Estes requerem dois lados: Eu e Eu, que refutam,
Acabando por construir nova individual Norma.
Com o outro Eu discuto. Os outros não escutam.

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