Sentidos... Vendi-os ao demónio pela felicidade de um ser especial. No momento, senti que eram palavras… Apenas. Escrevi a história que pretendia, criei-me sem sentir, sonhei que não me ria.
E não morri. Fiquei vivo, crente da minha existência, da minha presença neste mundo. Pareceu que tudo continuava igual. Começei a sonhar com o futuro, com o presente, com o passado. Um únido instante para todos os tempos. Memórias e criações em conjunto, num ponto único da mesma dimensão. O mundo parecia girar. Normalmente. A vida pareceu guiar-me, fez-me seguir sonhos, procurar o desconhecido. E fui. Fui vivendo. Tenho vivido.
Mas algo mudou. Algo que até agora pouco me tinha apercebido. Algo de que ainda nem me apercebi. A minha despreocupação com os outros tem-se vindo a reduzir. A mente tem vindo a preferir a solidão. Cada vez menos me importo com quem estou e quem são as pessoas que me rodeiam. Se digo algo que magoa, por mais verdade que seja, não me sinto mal por o dizer. Pelo menos, não tanto como antes. Neste momento já nem me dou ao trabalho de o dizer. Como se as pessoas perdessem o seu valor constantemente… Tenho lutado sem me aperceber para me aproximar das pessoas. Quem quer que sejam. Mas não me consigo ligar a ninguém. Na minha mente, está tudo distante. Ausência.
Sinto falta de sentir. Sentir a sério. Tenho fingido por vezes que sinto algo. Inutilmente. E o que mostro a todos é mais estupidez, mais parvoíce. Cada vez menos mostro o que sou, quem sou, quem quer que seja… Sinto-me feliz, mas na realidade nada sinto. Sorrio, mas para mim é um simples movimento.
E cá dentro, sinto falta de sentir… Talvez tenha mesmo vendido ao demónio todos esses sentidos… Mas sei que os tenho dentro de mim, a quererem sair e soltar-se. Mas não vejo nada. Não sinto nada! A confusão do passado deverá ter criado uma barreira extrema… Tenho de a ultrapassar… Como? Como?! Não sei… Não sei! Talvez precise de alguma ajuda externa… Talvez não depende apenas de mim…
Entretanto, vou crescendo. Porque não morri. Vou vivendo…