19 fevereiro 2012

Isolados

Não cabe, não entra, não sai, não fica… Há coisas que ficam de fora, observando o interior, de longe. Um vidro embaciado entre os olhos e o objecto… Quando desembacia, pelo doloroso respirar, bate a cabeça na placa dura e se apercebem os olhos de que apenas eles têm permissão. Os outros sentidos não ganham direito ao interior. As emoções ficam de fora, junto ao corpo, dentro do corpo, fora do mundo…

E o corpo sente a solidão. Sente que anda em torno do mundo mesmo estando no centro dele. A sua presença é inútil ao desenvolvimento da orquestra da vida, pois só pode observar o irreal. Se suplicar, irrelevante, ninguém o ouve. Ouvem apenas ruídos, uivos que preferem não ouvir e deixam passar… Já existem muitos problemas no meio do mundo, porque havia um corpo de originar mais ao falar?

Mundo… porque deixas corpos em torno de ti, deitados, belas adormecidas?... Com medo de falar, repousam em camas de aço frio esperando o momento em que alguém se lhes dirija… Mas não há alguém. Não existe uma voz com o poder de um beijo. Não existe uma voz… Portanto vão dormindo… Sonhando… Sonhando que sonham… Iludindo-se para que a mente não se perca para sempre… Tudo porque têm esperança de acordar… De serem acordados… Que um anjo caia. Um demónio. Que interessa o que é? Bastava uma palavra de importância. Uma palavra a dar valor. Um insulto preocupado. Um gesto manipulante. Um sorriso forçado. Um ombro para deitar a cabeça, uma lágrima para acompanhar, uma mão para enxugar…

Mas o mundo… Mundo… Não te preocupas. Porque haverias de te preocupar, se se preocupam contigo? Porque haverias de dar mais uma vida se te dedicam tantas? Egocentrismo… Pois que eu sou um corpo irrelevante… E iludo-me, sonho… E com esperança, aguento a fraca energia no meu interior, até que um dia te decidas a iluminar-me a testa com um ouvido, uma voz, um abraço, um carinho, um pouco de conforto na minha mente…